sábado, 9 de novembro de 2013

Sobre pertencer. Ou não.

Novembro. Eu sempre gostei desse mês. Não pelo mês em si nem por todos os escorpianos que ele traz, nem pelo calor de quase verão (que felizmente ainda não demonstrou as caras esse ano) nem pelo final do ano que se aproxima e lá vem aquele povo botar aqueles pisca-piscas HORROROSOS azuis nas sacadas do apartamento e que eu sou obrigada a ver quando olho das minhas janelas. Eu gosto do final do ano, mas especificamente da última semana de dezembro, e só. Odeio os preparativos, odeio as ruas cheias de gente, odeio esse povo gastando o dinheiro que não tem pra dar presente para os outros e odeio a muvuca toda. Odeio, inclusive, o amigo secreto do trabalho que nunca teve desde que eu entrei mas que agora eu já prevejo que tenha só por conta dos caciques novos que entraram e são, teoricamente, "festeiros" (mentira, eles querem só se enturmar pra conhecer as pessoas com intenções duvidosas). 

Eu gosto de novembro pela sonoridade da palavra. Acho novembro um mês pomposo. Chique. Menos coxinha que dezembro. Menos preguiçoso que fevereiro. Menos absorto que julho. Novembro é um mês, mas se fosse uma pessoa seria daquelas pessoas altas e magras. Mulher de cabelo joãozinho e que usa vestido estampado longo ou macacão de malha esvoaçante. Novembro é um mês longilíneo. 

E eu aqui, em novembro, do alto da minha vida cheia de afazeres e com o pensamento de gente velha que diz que precisava de um dia com umas 50 horas, mulher de futuros 34 anos, no sofá da minha casa iluminada e tranquila, com meu notebook e minha caneca de café. Tudo o que eu sempre imaginei ser quando tinha por volta de 10 anos. Estou aqui, vida. Como eu sempre soube que estaria um dia. Cansada, com a casa "extremamente organizada porque, para compensar, meus pensamentos são extremamente bagunçados". Aparentemente tranquila, mas absorta em minhas próprias paranóias e teorias da conspiração (att. Anna Vitória).

Dia desses fui pega pela tia, a me hipnotizar questionando coisas e descobrindo através de minhas respostas questões íntimas minhas que quase sempre não quero mostrar. Em uma delas, descobri mais palpavelmente que ainda não cheguei nem perto de tudo o que eu quero fazer na vida. E então passei a planejar fazer. Pra isso, nem preciso do feng chui pra saber que, se eu quero comprar roupas novas, eu preciso me livrar de algumas que eu já tenho no armário e não uso tanto assim, pra poder sobrar lugar pra guardar as novas. Preciso me livrar dos livros antigos da minha estante, mas sem antes reler as histórias que eu não lembro para então saber com certeza quais livros ocupam meu espaço por estarem esquecidos e quais ocupam por fazerem parte da minha vida de alguma forma e eu só não lembro exatamente como. Da mesma forma, preciso me livrar dos pensamentos que só ocupam espaço no meu cérebro e me fazem mal lembrar, pra sobrar espaço para novos e felizes pensamentos. Preciso limpar os armários. A mente. A vida.

Em uma conversa com a amiga, ela também me fez pensar nos grupos dos quais faço parte. Os que me fazem bem e são interessantes e valem a pena o meu esforço para mantê-los. E os que não. Os que não são uma via de mão dupla, não no sentido de "se eu te dou um presente, você me devolve o presente", mas no sentido de: será que essa pessoa que eu dedico atenção tem o mesmo afeto por mim? Talvez eu conclua que não. Será que eu pertenço mesmo a este ou a aquele grupo, ou será que neste tempo dedicado por mim a eles não seria melhor se eu estivesse cuidando de mim mesma? Pertenço ou não pertenço a esta situação, a este momento, a esta discussão ou a esta festa?

Se não me convidaram pra essa festa pobre talvez seja porque eu nem sou pobre nem gosto de festas. E aí eles têm mesmo total razão em não ter me convidado.


 


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A magia da cultura

Eu estava na minha vidinha normal de pegar o metrô de São Paulo todos os dias para ir e voltar do trabalho. Ah, linha amarela. Aquela que tem barreira de acrílico na catraca. Aquela que a gente pega 25 escadas pra descer e pra subir todos os dias. Por isso, a linha mais perto do inferno que existe. Mas é a melhor da cidade. E, se o metrô de São Paulo é o melhor do mundo, então a linha amarela do Metrô é a melhor do mundo. E eu até concordo. Tirando o cheiro de cachorro molhado por causa dos assentos de tecido e tirando essa coisa de parecer que vai cair a bunda da galera se todo mundo não entrar atropelando quem está saindo e correr desesperadamente como uma dança das cadeiras para sentar nem que seja apenas por 4 minutos, que é o tempo que dura de uma estação à outra. Tirando isso, e tirando o coreano que deixa o nariz escorrer até a jaqueta de couro, formando aquele horroroso fio de catarro bem na minha frente sem nem ao menos se mexer tentando disfarçar, e tirando o casalzinho chinês, que no caminho para o cursinho, todos os dias, vai se melando de maneira bem indecente todos os dias no metrô. Tirando todos esses poréns, o metrô da linha amarela de São Paulo é mesmo bem boa.

Enquanto estamos nas dependências da linha amarela, sempre ouvimos gravações a respeito de segurança. E, nas exatas seis horas da manhã, todos os dias, enquanto eu espero o metrô e penso na vida, a moça da gravação faz ares de som de fundo: “A faixa amarela é sua segurança, só a ultrapasse quando o trem abrir as portas. Se não puder embarcar aguarde o trem seguinte.” É, hoje eu tenho uma reunião às 14h. “Atenção: nas escadas rolantes utilize sempre o corrimão e deixe o lado esquerdo livre para circulação.” Ai que sono. “Fique atento aos seus pertences. Leve bolsas, mochilas e sacolas à frente do corpo, assim você protege o que é seu e não incomoda os outros usuários.” Acho que vou passar na Bella Paulista e comprar pão francês pra tomar café. “Evite acidentes. Ao embarcar e desembarcar, cuidado com o vão entre o trem e a plataforma.” Tomara que hoje a fofoca da área esteja controlada pra eu conseguir trabalhar em silêncio. “Evite acidentes. Ao som da campainha, não entre nem saia do trem.” Ai que bolsa pesada, eu acho que já estou carregando toda a casa aqui dentro. “Atenção. Não impeça o fechamento das portas, isso atrasa a circulação dos trens e prejudica todos os passageiros.” Talvez hoje não dê tempo de ir para a natação. “Os assentos indicados são de uso preferencial para idosos, gestantes, pessoas com deficiência ou pessoas com crianças de colo. Respeite esse direito. Ausentes pessoas nessas condições, o uso dos assentos é livre.”

E então, em meio a meus pensamentos, de repente eu penso estar na escotilha. Aquela, em que o Desmond esteve durante tanto tempo. Que não podia sair pois era preciso colocar um código todos os dias quando a sirene começava a tocar. E então agora meu plano de som ao fundo se resume a Make your own kind of music, sing your own special song na voz da incrível Mama Cass. E os sussurros dOs Outros. E Sawyer. Ô lá em casa.

Ah é. Eu estou no metrô. Indo trabalhar. E não no Lost.

Chegou o metrô. E tomara que o coreano do catarro não sente perto de mim, que senão dessa vez eu vou mesmo vomitar. E as mesmas pessoas. A mesma turminha de alunos do Liceu. A mesma dupla de mãe e filha que eu sempre imagino estarem indo ao médico. O mesmo cara que há 15 anos atrás eu acharia bonitinho, mas agora como eu já cresci e sou mulher sei que ele é só o tipo de cara que é bonito por fora e vazio por dentro – e que, daquele livro do cursinho que ele está lendo, deve estar absorvendo menos de 5% porque quando ele chegar lá vai ter alguma menina apaixonada burra que vai tentar ensiná-lo a matéria em vão. E a mesma menina estudante do Mackenzie, com aquele mesmo estereótipo de cara de burra porém calça agarrada, igual à tantas outras. E então, esperando chegar na minha estação, eu canso de olhar para os rostos das pessoas e passo a olhar os pés. É sempre divertido olhar os sapatos das pessoas no metrô. Aquele ali de plástico. E aquele lá com o tênis rasgado. A mulher de bico fino e salto alto, que do alto da pose só quem já sentiu na pele é que sabe o tamanho da dor que ela sente nos pés. E um par de coturnos. Pretos, sujos. Um amarrado, outro não. Um dobrado ao meio, outro não. Um com a barra da calça pra dentro, outro não. Um com os cadarços desalinhados, outro não. E eu, em meio à distração, de repente fiquei curiosa pra saber o rosto do dono de algo tão surreal e desalinhado nos pés. E quando meu olhar subiu do corpo dele ao rosto, dei de cara com alguém que me encarava. E aí eu quase tive um treco. Porque ele tinha cara de assassino. Daqueles que prendem a gente na mesa cheia de plástico. E que antes disso já sabem exatamente quem a gente é, porque passou um tempo se dedicando a conhecer suas vítimas. Ah é. Isso aqui não é Dexter. É só o metrô. Mas quem me garante, que ali em meio a tantas pessoas, enquanto a gente está no vuco-vuco da hora do pico no transporte público, quem te garante que aquela pessoa que escorrega a mão pelo ferro do metrô até encostar na sua mão, não é um assassino? Quem te garante que aquela criatura que espirra na mão pra logo em seguida segurar no ferro, não acabou de esquartejar alguém, colocar num saco de lixo e jogar em alto mar? Em meio a tantas pessoas, com certeza há, ali na vida cotidiana, algum psicopata? Com certeza há.

Mas a minha estação chegou, e enquanto eu pego minha meia dúzia de bolsas e saio andando com pressa em meio às pessoas, enquanto tento desviar de velhinhas, crianças e gente louca que sai correndo pra entrar na porta em que você precisa sair, porque o limite é o apito das portas, um rapaz relativamente grande empaca no meu caminho até a escada rolante. Um rapaz alto. E grande. E que usa uma blusa também maior que ele. Andando desengonçadamente. Tanto, que eu não consigo ultrapassá-lo. E então, por trás dele, começo a pensar que ele não tem um jeito bem peculiar. Tanto, que chego a pensar que, caso haja alguma vida não humana entre nós aqui na Terra, se houver outro tipo de vida tentando se disfarçar de humano.... talvez aquele rapaz não esteja conseguindo fazer isso tão bem. Mas ele não tem jeito de ET. Ele está mais para um Ciclope. Feito Tyson, o meio irmão de Percy Jackson. Tyson, chamando centauros de pôneis. Colocando nome de Arco-Íris em cavalos marinhos. E chamando Donuts com açúcar no mato.

Queria chegar logo em casa pra continuar a ler meu livro. Mas agora eu ainda estou no metrô indo para o trabalho.

Ah, o metrô de São Paulo. Sempre tão cheio. Todo mundo sempre com tanta pressa. Multidão de gente, todo mundo correndo pra lá e pra cá, como formigas quando a gente pisa sem querer num formigueiro. Todo mundo andando na mesma direção, mas sempre tem uma barata tonta no meio do caminho. Gente pra lá e pra cá, levando com a maré qualquer desavisado indeciso que estiver no meio. Gente. Muita gente. E então eu passo a imaginar como seria se toda essa multidão de gente fosse zumbi. Milhares de zumbis, pelos túneis do metrô. Cadê meu taco de beisebol? Eu preciso realmente comprar um taco de beisebol para o caso em que um dia todo mundo vire zumbi nos metrôs de São Paulo. Porque sabem como é: não dá pra atirar em zumbis, porque os outros escutam e isso os chama pra perto de você. Tacos de beisebol são silenciosos. Mas são milhares de zumbis. Muitos, vindos dos corredores. E o metrô tem muitos corredores subterrâneos. Ai Deus, como eu vou sair daqui, do meio desse Walking Dead?

Finalmente, eu no trabalho. Reunião de diretoria. Presidente da empresa vai falar. E eu, enquanto entendo um indiano falando inglês, penso que ele parece alguém que eu conheço. Que ele se chama Goku, mas não é com o das esferas do dragão que ele parece. Não. Ele me parece meio tímido. Um indiano presidente de uma empresa, porém tímido. E, enquanto ele faz piadas tentando interagir com os funcionários brasileiros, enquanto ele sorri com a bochecha rosada apesar da pele morena, eu lembro com quem ele se parece. Rajesh Koothrappali. Que bebe pra conseguir conversar com mulheres. E que, em meio a frases inteligentes e dignas de seu cargo de doutor, fala inocentemente absurdos mal compreendidos por quem os ouve. Ah, Raj. Acabe logo de falar e chame Sheldon, meu grande ídolo de The Big Bang Theory.

Do meu lado, a colega de trabalho tem o rosto todo vermelho por algum tipo de reação alérgica que ninguém sabe o que causou. A cada dia, a pele dela está mais inchada. Os médicos se limitam a dizer que ela está horrível. Mas eu não. Em conversas casuais, tento entender o que causou toda essa alergia absurda. Pergunto com quais tipos de produto ela está fazendo faxina em casa. Analiso momentos em que ela pode estar estressada no trabalho, e a chamo em meio a eles pra ver se a vermelhidão do rosto dela melhora ou piora. Pergunto o que ela vem comendo nos últimos dias e sugiro coisas que ela deveria parar de comer por uns tempos. Pergunto da família dela, se há algo parecido em alguém. Me certifico de não ser sarcoidose. Nem lúpus. Dr. House com certeza me contrataria.





Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros (e e filmes e séries) e nada mais.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

22 de setembro de 2013

Eu perdi o Rock in Rio do Bruce Springsteen pra dormir, mas tudo o que veio depois compensou isso. Coloquei o celular pra despertar às 4h da manhã e quando contei isso para as pessoas todo mundo me achou meio maluca. Mas eu não sei porque eu posso ser maluca ao acordar 4h pra fazer alguma coisa que eu vou gostar muito, mas não sou maluca quando acordo 4h da manhã pra trabalhar todos os dias, o que é fato. Ah, esse povo não sabe de nada. Calem suas bocas.

Acordei 4h da manhã feliz da vida, mas diferente do que foi da outra vez. Em 2010 eu não estava cabendo em mim em pensar no sonho que realizaria naquele dia. Mas ontem foi uma alegria mais contida, mais sã. Estava feliz, mas não estava ansiosa. Tomei meu café, escovei meus dentes, coloquei minha camiseta que tinha cortado no dia anterior e fui ao banheiro sabendo que essa seria a última vez por horas que eu podia fazer isso naquele dia.

Saí ainda com o céu escuro. Desci a rua como quem não pensa em nada além do vento no rosto e na ilusão de despreocupação. Peguei o ônibus, desci, andei pela rua deserta. E cheguei na fila que eu já sabia me esperar. Dessa vez mesmo tendo chegado mais cedo a fila estava maior que em 2010. E ainda ficaria muito mais. Concluo que o poder aquisitivo do brasileiro cresceu em 3 anos, porque a quantidade de pessoas na fila da pista premium do show era bem umas 3 vezes maior agora do que era antes. E é por isso que as pessoas pagam o absurdo de quase mil reais por um show. Porque pagam. E quem ganha com taxas de conveniência... ah como esse dinheiro chega fácil.

Já cheguei puxando assunto e sendo simpática com as meninas que estavam no fim da fila, porque é assim que a gente tem que ser quando sabe que vai passar o resto do dia ao lado daquela pessoa que antes era desconhecida. E o mesmo fez quem chegou depois de mim. E em menos de 10 minutos já éramos amigas de longos anos. E então, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na dificuldade e na necessidade, no fim das contas já estava todo mundo dividindo seus lanches, suas garrafas de água e a minha maçã, enquanto filosofávamos loucamente sobre as vidas dos integrantes da nossa paixão em comum, compartilhávamos experiências e conhecimento e a opinião sobre a beleza do namorado de uma, sobre a profissão da outra e sobre como o pai de alguém parecia o Patrick Swayze. Isso sem contar a amizade que a gente fez com o menino que estava organizando a nossa fila (que era bem bonitinho, mas quando perguntamos se ele pegava muita mulher com essa profissão de organizador de eventos ele respondeu que "elas só se aproximam de mim por interesse". Own, fofo.) e as VÁRIAS vezes que falamos mal da mulher que Jon beijou na boca no Rock in Rio. Rosana, vulgo Maria Bethânea (apelido que todas as fãs de Bon Jovi deram a ela) estava lá, claro, passeando pra lá e pra cá e aproveitando de ter se tornado uma sub-sub-sub-celebridade. A nós restava, além do recalque e da zoeira cada vez que ela passava (eu gritei pra ela ir arrumar o que fazer e lavar uma louça) as especulações de quem seria a próxima felizarda a subir no palco e o que jogaríamos em Bethânea caso Jon a chamasse de novo.

Após 10 horas de muita dor na bunda por termos passado tanto tempo sentadas (dor essa que permanece mesmo eu estando agora sentada no meu sofazinho confortável), 2 reais a menos que eu paguei pra ir no banheiro, um São Pedro hipocondríaco que brincava conosco mandando chuva ou sol ou chuva e sol de 5 em 5 minutos (e a gente fez um exercício danado no esquema abre e fecha e abre guardachuvas), chegou nossa hora de ver os portões do estádio se abrirem e o nosso desespero de entrar correndo loucamente por um bom lugar. Achado isso, mais algumas horas sentada (dessa vez naquelas placas de plástico com furinhos que colocam pra proteger a grama do estádio - juro que minha bunda ficou com calo, mas isso são ossos do ofício que todo fã de shows sabe que é necessário passar. Uma vez em pé, nunca mais na vida você vai conseguir sentar).

De repente todo mundo que estava sentado levantou e eu quase fui pisoteada porque demorei um pouco mais pra entender o que estava acontecendo. Todo mundo correu pra chegar na grade. E aí, mano. Mano. MANO. Não deu pra respirar. Eu nunca fiquei naquela situação na vida. Nunca. NUNCA. Da outra vez o negócio foi que a gente não conseguia levantar ou abaixar os braços, mas dessa vez ficou BEM pior. Porque as pessoas não conseguiam respirar, sabe? E então, Deus, eu agradeci. Agradeci todos os meus 1,72m de altura que quando eu estava na adolescência odiava. É lindo ser alta. É divino. É lindo poder conseguir respirar no meio da multidão enquanto alguém enfia a barriga quase dentro da sua bunda de tão encostado e a criatura da frente enfia os cabelos na sua cara. Mas a gente consegue respirar. Nossa, que máximo.

Assim ficamos, em uma luta sem fim com quem empurrava de um lado para outro e para frente. Uma multidão de pessoas, como um mar infinito. E eu lá, uma reles gota d'água. Enquanto esperávamos o início do show tocou Welcome to the Jungle, Guns 'n Roses. E então eu eu achei a música bem propícia para o momento. Conversas daqui, brigas dali, quase não demorou pro Nickelback entrar e dar um show. Nem sou fã da banda, mas gosto de algumas músicas. E todo mundo amou, porque até os holdies são bonitos, gente. Que gente linda. E aquele guitarrista de meu Deus? Enfim: Nickelback é uma banda que antes eu achava bonitinha, mas agora assistindo o cara cantar ao vivo, a tamanha empolgação não só de quem é da banda mas também do pessoal da organização e a vontade de fazer uma coisa bacana imperou e me surpreendeu bastante para o lado bom. E agora eu vou gostar mais deles ainda. "Vocês estão bem? Vocês estão curtindo a nossa música? Mentira, vai. Vocês vieram aqui pra ver o Bon Jovi!". Ô dó.

Depois de músicas lindas, um show de simpatia e disposição e uma performance incrível de Ryan Peake (eu sou esperta, já procurei o belezinha), quando Nickelback acabou de cantar só restou a nós a reclamação pelo espaço que ainda estava difícil até de respirar. Mas não demorou muito para o mais lindo de todos os lindos da face da terra entrar no palco.

E nossa, como está lindo. Como continua lindo. E felizmente dessa vez, apesar do aperto e do empurra-empurra eu pude ficar novamente bem de pertinho. Que olhos azuis. Que pele branquinha. Que biquinho. Coisa linda. Ele entrou cantando as mesmas músicas que cantou no Rock in Rio, mas depois de três ou quatro músicas ele parou. E contemplou. E amou. Todo mundo juntinho batendo palmas e balançando as mãos como ele pedia. Todo mundo participando e gritando e cantando e levando bexigas e confete e vários cartazes com escritos do tipo "eu sei cantar as músicas" com referência à Bethânea, tão nossa conhecida, que subiu no palco mas não soube cantar a música que Jon tocava no momento. Então Jon comentou que isso sim é o que ele queria. Que São Paulo é melhor que o Rio. E aí pronto. Morumbi veio abaixo e a alegria toda foi mútua. Jon se transformou na criatura agradável e participativa que é na maioria dos shows e cantou feliz e animado e LINDO todas as músicas do set list.

Lindeza à parte, nem tudo foram flores. Estava eu aos pés de Jon, tremendo empurra-empurra e com dificuldade de respirar, já disse. Do meu lado, um cara com a mulher. Que de repente resolveu que ia me bater.

O retardado resolveu brigar porque estava todo mundo empurrando. Mas não resolveu brigar com todo mundo, ele quis brigar COMIGO por isso. Porque segundo ele eu estava deixando as pessoas passarem pra frente, o que tirava ele e seus pés de gay do lugar onde ele gostaria de ficar. E me empurrava de um lado, enquanto uma mina franzina tentava se enfiar EM MIM pelo outro lado. Mas com gente franzina eu já estou acostumada e nem me preocupo. Elas são tipo igual mosca rodeando sopa, você tampa a sopa pra ela não pular e pronto. Mas ficou um de cada lado me empurrando até o momento que eu me enchi e virei O Incrível Hulk e com cada braço eu empurrei os dois um pra cada lado gritando pra que deixassem de ser retardados e parassem com isso. E o cara, com ar de deboche: "eu estou morrendo de medo dos seus gritos" para o qual eu respondi "mas da minha mão na sua cara você está, né?" E então foi nessa hora ou pouco depois que ele disse que ia acabar com o meu show e eu levei uma cotovelada na costela. O cara me empurrou absurdamente como se eu fosse a prostituta da mãe dele. E aí, mundo, não prestou. Do mesmo jeito que ele me empurrou eu fiz exatamente a mesma coisa com ele. Só que com o agravante de eu ter descoberto nesse momento que sou mais forte que aquele cara. Ah, o que um babybrother de 2 metros de altura e que pesa 100 kg não faz? Anos de treino! Eu empurrei o cara e junto com ele foram a mulher e as vagabundas todas que estavam com ele. E então eu olhei bem pra cara dele e falei que ele deveria ir no show do Metallica, porque é um covarde que vai no show do Bon Jovi pra bater em mulher. E a mulherada ao meu redor começou a se manifestar e a gritar e chamamos a segurança que mandou ele sair. A vaca da mulher dele defendeu o imbecil e eu olhei bem pra cara dela dizendo que o cara tinha me dado uma cotovelada na costela, questionei se foi mesmo com esse covarde que ela resolveu casar e se ele faz isso com ela em casa também. E então eu, as meninas ao meu redor e a segurança calamos a boca do casal esdrúxulo, que se afastou de nós e agora espero que estejam se fodendo na puta que os pariram. (desculpem pelo absurdo de palavreado desse parágrafo, mas eu estou realmente revoltada até agora com essa situação).

Sabe. Quando eu era pequena e minha mãe ia me buscar na escola ela sempre me ensinou que se alguém me batesse era pra eu revidar. Que não era pra passar de boba. E que se chegasse em casa machucada ainda ia apanhar. E eu a agradeço por isso. Eu posso ser rabugenta e briguenta, mas pra eu sair na mão com alguém tem que ter alguma coisa muito extrema. Mas é só alguém mexer comigo pra eu entrar na porrada e não sair mais até ter matado o energúmeno ignorante. Aquele cara ouviu tanto, porque eu gritei pro estádio inteiro ouvir que ele era um covarde imbecil que bate em mulher porque estava nervosinho pelo empurra que se ele tiver o mínimo de consciência e tiver prestado atenção no que eu falei não deve nem ter dormido à noite. E depois que acabou o show eu saí gritando e apontando pra ele e dizendo pra todo mundo que passava que aquilo ali era covarde que batia em mulher. Mas mesmo assim toda a raiva que eu senti por esse idiota ainda está aqui tão presente que eu tenho até vontade de stalkear todo mundo que comenta no facebook sobre o show só pra achar onde o cara mora e esperar ele na rua pra esfregar a cara do filho da puta no asfalto. Porque eu fiquei puta. Eu bati na mesma proporção, mas se eu tivesse uma arma era ali e nele que eu ia usar. Não tenham dúvidas.

Mas ódio doentio pelo imbecil à parte, devo dizer que o show foi lindo. Que os fãs paulistas tiveram a decência de não questionar a falta de Richie na banda enquanto Jon se apresentava, e pra ele isso aliado à toda a participação e alegria do público teve muito valor. Jon abusou de sorrisos e gracinhas e comentou várias vezes o quanto estava feliz com tudo. Agora ele pode finalmente provar a Richie que ele, Jon, consegue sim, sozinho, sustentar um estádio de mais de 60 mil pessoas. Mesmo no subdesenvolvimento e desorganização brasileiras.

O show foi lindo e extremamente emocionante, mesmo que dessa vez eu não tenha chorado. Jon continuou cantando só as músicas mais novas, acredito mesmo que pela falta de Richie em fazer os solos e a segunda voz que é mais presente nas canções antigas. David, bonzinho como sempre, em seus ótimos teclados e sustentando felizinho todas as decisões de Jon.

Livin 'on a Prayer, a última música tocada na noite, foi regada a um temporal que caiu sobre nossas cabeças e nos ensopou de tal forma que eu não sabia se conseguiria chegar em casa sem um barco. E na imensidão do estádio do Morumbi andamos ainda todos juntos e sem fôlego, mas agora com capas de chuva rasgadas e vestidas porcamente rumo à saída.


Conclusões da noite:
1 - Bon Jovi é e sempre será uma das bandas favoritas da minha vida.
2 - Jon Bon Jovi sempre será meu modelo número 1 de beleza masculina, não importa qual idade e corte de cabelo ele tenha.
3 - O show foi lindo, mas não emocionante. O que prova que talvez os melhores dias da vida da gente só existam uma única vez. Não dá mesmo pra tentar repetir, nada nunca vai sair tão perfeito como da primeira vez.
4 - O Brasil é lindo e eu sou super patriota, mas os brasileiros são uma população de merda. Nunca terão educação. Nunca poderão se comparar aos europeus ou americanos no quesito respeito com o próximo.
5 - Talvez esse seja meu último show visto tão de perto. E talvez tenha sido a última vez que eu tenha visto Jon Bon Jovi pessoalmente. :~


Em tempo: nem tudo aqui nesse fim de post é melancolia. Das amizades que eu fiz na fila, uma das meninas me avisou pra procurar um certo vídeo no youtube. Eu procurei, encontrei, e achei tão bonitinho que decidi compartilhar com vocês. Assistam! O vídeo é de outubro de 2007 e diz muita coisa sobre o meu ídolo tão antigo e tão amado.


sábado, 21 de setembro de 2013

Da melancolia da música

Rock in Rio 2013. Sexta feira, 20 de setembro. Bon Jovi cantou com apenas metade da banda. E foi muito triste.

Eu, aqui, mesmo sabendo que isso aconteceria, estava animada. Apesar do sono incrível depois de estar quase virada por ter visto Metallica na noite anterior. Mesmo assim, Bon Jovi é Bon Jovi. É tudo o que envolve a trilha sonora da minha vida.

E então começaram as notícias a respeito de ele não querer dar entrevista para o Multishow. De estar mal humorado. De não olhar para os lados e demonstrar irritação. E foi só quando ele pisou no palco que eu entendi todas essas atitudes anormais quando vindas dele, sempre tão simpático e galanteador. Jon está triste.


Eu, na minha adolescência despreocupada, sempre amei música, mas nunca fui muito de me prender a detalhes. Nunca fui esse tipo de pessoa inteligente que só gosta da música se prestar atenção na letra e gostar. Eu nunca prestei atenção nas letras de músicas internacionais. Pra mim a melodia e voz do cantor sempre bastaram. E as poucas vezes que eu tentava ouvir a letra sempre me decepcionava com o conteúdo da música tão amada. Ossos do ofício de ter odiado inglês durante mais da metade da minha vida até hoje. Ou do resquício "este Romeu está chorando mas você não consegue ver esse choro".

Pra mim Bon Jovi sempre foi só Jon Bon Jovi e suas caras e bocas. Até que eu saísse da adolescência e me aprofundasse de maneira mais madura em tudo o que eu gosto. Capricornianos são velhos em corpos de jovens, já diz a astrologia. E eu sempre acho agora que tudo o que eu gosto tem que ser baseado em alguma coisa profunda e intensa.

Faz poucos anos que eu passei a me interessar pelos outros integrantes das bandas que eu gosto nessa vida. E me distanciei da origem de Bon Jovi ser somente Jon. De Aerosmith ser somente Steven Tyler. De Foo Fighters ser somente Dave Growl. De Guns ser somente Axl. De Queen ser somente Freddie. E isso se deu principalmente depois que eu passei a baladar nos shows e casas de rock da vida. Passei a acompanhar a virilidade dos bateristas. O charme dos guitarristas. A deselegância discreta dos baixistas. A sensibilidade dos tecladistas. Tudo o que uma banda precisa ter além da paixão de um vocalista.

Já faz tempo que ficou claro pra mim que uma banda é sempre uma composição de pessoas focadas em um comum. Mas foi só ontem que eu reparei a real falta que um desfalque faz. Só ontem eu entendi o que é a falta de um membro do grupo. E, se antes eu achava que um real desfalque em uma banda era percebido somente com a ausência de um vocalista, todo esse pensamento caiu por terra.


Richie Sambora sempre foi um nome pouco interessante na minha vida. Incomparável com Joe Perry, por exemplo. Muito menos incomparável com Slash ou Robert Trujillo também. Richie pra mim sempre foi um mero coadjuvante. Até que eu fosse no meu primeiro show do Bon Jovi da vida, em 2010. E, sem saber, ficasse ali posicionada na grade exatamente na frente de Richie. Por conta das amizades que eu fiz na fila, fãs dele, e que sabiam exatamente qual era o lugar dele no palco. Eu, fui na onda, e quando Jon entrou fiquei meio decepcionada por não ter ficado exatamente ali na frente dele. Mas foi só por alguns instantes. Foi só até Richie se mostrar o integrante mais interativo da banda. Simpático como poucos, passou o show inteiro brincando e sorrindo e conversando conosco, ali pertinho dele. Richie também se mostrou incrível com suas lindas guitarras, em especial a épica com dois braços. Richie me provou o quão importante é pra Bon Jovi. Mas eu só senti o que isso significa ontem.


Entre tantos shows, quase todos com integrantes "trabalhados no pó" loucamente, Rock in Rio se destacou pra mim como artistas com loucura insana. Desde Rogério Flausino não se contentando em somente cantar as músicas de Cazuza, mas querendo imitar também a opção sexual do outro, passando por Dinho Ouro Preto cara que coisa linda cara e daí velho não sei cantar minhas músicas cara, cantem vocês aí cara e chegando no absurdo de Bebel Gilberto e sua "vibe" vestido branco colado, até ontem eu pensei que a única banda que eu não senti estar completamente drogada, por incrível que pareça, foi Metallica. Mas isso foi até Jon Bon Jovi entrar pra cantar.

Eu senti daqui a tristeza de Jon. O esforço em cantar músicas onde o solo era feito desde sempre por Richie Sambora. A escolha de cantar somente as atuais, porque as antigas possuem os emblemáticos gritinhos agudos de Richie, que sempre deram o toque especial em tudo. Jon mostrou irritação quando a platéia morta gritou "volta, Richie", somente agradecendo. E, apesar de ter canalizado toda a culpa de sua dificuldade em Tico Torres, internado após duas cirurgias, eu sempre soube, Jon. Você está triste sim pela ausência de Tico. Mas está muito mais pela ausência de Richie.

Em tantos anos tão envolvida no mundo musical e integrante de uma família roqueira, eu sempre fui da opinião que bandas de música devem ter um relacionamento muito mais intenso entre seus integrantes do que cada um deles deve ter com sua própria esposa. Deve ser uma relação amizade-trabalho absurda de tão íntima. É aquela coisa de passar anos convivendo com aquelas pessoas inicialmente somente amigas 24 horas por dia. Viajando junto. Sabe, eu que sou uma reles mortal já penso que é complicado viajar com alguém que não é da sua família pra passar um Carnaval junto que seja, imagine esses caras. Eles são mais que colegas de trabalho. São mais que amigos. São irmãos. E cada um deles deve se sentir muito mais à vontade em viajar com os outros do que viajar com sua própria família. É a convivência que faz a vida.


Ontem Jon Bon Jovi sentiu na alma a falta do irmão de tantos anos. Ali, do ladinho, gritando junto. Dividindo o mesmo microfone. O "incrível Richie Sambora", como ele já disse tantas vezes nos shows. Irmãos. Que brigam, como a gente briga com nossos irmãos. Eu lembro bem que a única vez na vida que briguei com meu irmão eu quase morri de tristeza. E é exatamente isso que Jon está sentindo, por trás de toda a obrigação comercial de ter que fazer um show.

Richie foi demitido do Bon Jovi por "estar com problemas pessoais" vulgo alcoolismo. E Jon Bon Jovi, apesar de provavelmente já ter passado por essa experiência durante alguns anos, não gostou que Richie não parou na reabilitação. Richie, por sua vez, não aprovou a exposição que Jon fez dele ao divulgar ao público qual era a situação do cara. Jon então informou que Richie não é importante para a banda. E Richie foi demitido. Jon quis provar a sua capacidade de enfrentar um estádio sem Richie ao lado e vestiu a carapuça da irritação. Não deu certo, Jon. O Brasil inteiro reparou.

Por trás daqueles lindos olhos azuis, da pele branquinha e perfeita, do corpo ainda tão em forma, e das reboladinhas e biquinhos, está toda a tristeza perceptível e clara em cada canção. Que ele, esperto, desfocou chamando uma baranga da plateia e beijando na boca. Ah, Jon, Tão profissional. Tão homem de negócios. E tão fugitivo de seus próprios sentimentos.


Amanhã a essa hora eu estarei lá na fila na porta do estádio. Conversando com as outras fãs indignadas com a ausência de Richie. E pensando nas relações pessoais, tão complicadas mesmo nas vidas das pessoas que a gente acha "supermans". Amanhã o show vai sim ser lindo, com todas as músicas que eu sempre amei, com toda a beleza do cinquentão mais lindo do mundo todo. Mas não estará completo. 

Amanhã toda música cantada terá som de melancolia. O que, pensando bem, sempre tiveram as músicas do Bon Jovi na minha vida. O momento meu comigo mesma, pensando na vida com ar de tristeza. Amanhã o Bon Jovi será pra mim mais uma intensidade do que sempre foi. Phil X se esforçando ao máximo pra substituir Richie. Rich Scannella não chegando nem aos pés de Tico. David intermediando tudo e dando o seu melhor, como sempre. A platéia paulistana, felizmente e muito provavelmente bem mais animada que a carioca, fatalmente fará manifestações pela falta de ambos. E Jon tentando esconder seus tristes desfalques.

E o que seria a música, senão uma grande expressão de melancolia?

Please, não demorem uma eternidade pra voltarem a ser fofos e felizes assim.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Sobre ele. Sobre nós. Sobre mim.

Hoje eu vim aqui contar pra vocês que no próximo domingo eu vou ao show do Bon Jovi. Na pista premium, como da outra vez. E pra quem já me conhece, já sabe que no primeiro show que eu fui, foi o melhor dia da minha vida. Foi o dia que eu vivi pra mim. Pra fazer só o que eu mesma queria. Sem pensar em nada nem em ninguém. E foi lindo.

A diferença daquela vez pra essa, além da economia de posts (daquela vez eu fiz uns 20 posts e uma amiga - né, Analu?) é a sensação de tranquilidade. Eu já o conheço. Ele já me conhece. Já cantou música e fez coração pra mim e tudo. Já sei da imensidão de 65 mil pessoas cantando Always junto. Já sei que nas horas que eu passarei na fila pra ficar na grade, farei grandes amigos com os mesmos gostos que eu. E com muito mais histeria. Já sei que eu vou comprar tudo o que quiserem me vender. Já sei que tenho que separar mais de 100 reais pra comprar outra camiseta oficial. Já sei que vou ter que ir no banheiro das casas dos arredores do estádio. E já sei que não consigo fazer xixi em lugar que não tiver porta.

Sei também que a emoção da hora que ele entrar e enquanto eu estiver ali serão iguais, porém diferentes. Porque serão únicas. Sei que eu vou achar lindo cada biquinho que ele fizer. E vou achar fofa cada reboladinha que ele der. Vou chorar quando tocar Bed of Roses, Blaze of Glory e Wanted Dead or Alive. E, se duvidar, chorarei de novo em todas as outras também. Sei que ele continuará sem nenhuma ruga, perfeito pra mim como sempre foi. Perfeito como a imensidão daqueles lindos olhos azuis. Sei também que a perfeição dele deve parar ali, no palco de um show. E que, depois dali, ele deve ser uma pessoa normal, cheio de defeitos e de manias. E é por isso que a minha admiração e meu fanatismo param exatamente ali. Na hora em que acaba o show.

Sei que ele vai continuar sendo único na minha vida. Vai continuar simbolizando tudo o que já passou e tudo que ainda virá. Vai continuar sendo uma viagem por dentro de mim a cada vez que eu ouvir certas músicas. Ele vai continuar simbolizando a mim. Sei que, por mais que eu já o tenha visto assim tão de pertinho, e apesar de isso não ser a novidade da noite, enquanto eu estiver lá vai parecer tudo um sonho, como da primeira vez. Sei que enquanto eu estiver lá todo mundo que me conhece vai saber que eu estou em mais um dos melhores momentos da minha vida. E que eu estarei completamente feliz.

Sei que apesar de ser tudo igual, vai ser tudo diferente. Apesar de eu ainda ser eu, sairei de lá outra pessoa. Apesar de ficar cansada, suada, sem voz, dor até pra respirar, eu estarei feliz. Como nunca. Como sempre. E sei que, apesar da minha banda preferida atual não ser mais essa, apesar da falta enorme que Richie fará, apesar da recuperação da cirurgia em que Tico estará. Meu coração será sempre seu, Jon.

Always.

não me olha assim que senão eu não resisto.

domingo, 8 de setembro de 2013

Sobre o fim da MTV Brasil

Então. Quem me conhece até já sabe o que eu vou falar sobre. Quem me lê há tempos também sabe que eu sou saudosa de tudo e de todos. Que eu tenho saudade até de tudo que eu ainda não vi.

Eu acho triste. Bem triste mesmo. A MTV fez parte da minha vida mesmo antes de existir. Fez parte da minha vida quando eu era ainda bem criancinha, 5, 6 anos. Quando eu assistia clipes de música com o meu pai. Naquela época a MTV ainda nem existia. A gente assistia alguns programas específicos nos poucos canais da tv que existiam. Clip Trip. Mas um programa de clipe de música em um canal aleatório no tempo em que Michael Jackson lançou Thriller com certeza fez existir o que foi a MTV alguns anos depois.

Eu conheci a MTV na casa da minha avó. Que assistia Beavis and Butt-Head com meu tio, que deveria ter uns 8 anos na época. Eu, uns 12. Era lá por 1992. De lá pra cá a MTV fez muita parte da minha vida.


Eu sou da época da Astrid. Da primeira temporada de Thunderbird. Mas também sou da época que a gente só tinha uma tv em casa, com 13 canais e que só funcionavam os tradicionais 2 (Cultura), 4 (SBT), 5 (Globo), 7 (Record), 9 (Manchete, que morreu e depois virou Rede TV!), 11 (Gazeta) e 13 (Bandeirantes). Pra assistir a MTV a gente botava no canal 12 e mudava a estação de VHS pra UHS. E até hoje eu não faço ideia da diferença entre os dois. E também sou da época que as tvs não tinham controle remoto. Ou seja, a criança de toda casa era o controle e meus pais sempre diziam a frase célebre "Rê, muda lá pra gente".

Daí eu não pude assistir muito a MTV nessa época, porque meus pais, mesmo moderninhos e roqueiros, queriam assistir o jornal ou o que quer que seja. A mim restava apenas os programas da Cultura, época de Rá-Tim-Bum e afins, porque meu irmão era ainda um bebê. Mas eu sempre soube a respeito da MTV, principalmente por causa dos amigos da escola.

Demorou um bom tempo pra que eu tivesse uma tv no meu quarto, mesmo porque eu não queria. ~arrependimento~. Eu, no auge da adolescência, me trancava no meu quarto e preferia muito mais meu aparelho de som e vibrava ao som do “dance” da época. Nem parava pra pensar que se eu tivesse uma tv poderia ainda acompanhar a música da moda e com o plus de conhecer seus clipes. Mas ok. Minha tv chegou no meu quarto aos 18 aos e, mesmo já tendo saído da adolescência, adivinha qual foi o canal que eu mais assisti na tv desde então? MTV, claro.

Foi também a exata época que eu comecei a namorar e por causa do namorado meu gosto musical se expandiu além das músicas internacionais que eu tanto gostava desde o início da vida. E aí também entrou a MTV. Ah, MTV e seu Piores Clipes do Mundo, o melhor programa que eu já assisti na tv. Que saudade. O auge do Marcos Mion. E eu nunca vou esquecer das performances dele imitando perfeitamente os clipes mais famosos da vida. E os erros de gravação dos clipes do Michael Jackson, que eu tanto amava. Só Marcos Mion "acabou” com tudo que eu curtia, mas foi com todo o estilo e eu amei. E a reboladinha i-gual-zi-nha à de Axl Rose em Patience? Amor.

Mas não foi só Marcos Mion que brilhou na minha admiração assistindo MTV. Penélope Nova e seu incrível Ponto Pê foi histórico. E eu nunca vou esquecer de algumas histórias hilárias que ouvi lá. Eu, no início da minha vida sexual. Penélope foi por muitos anos a minha VJ preferida. Porque tudo o que ela respondia quando as pessoas perguntavam absurdos era tudo o que eu diria se estivesse no lugar dela. Amo Penélope pra sempre. E esse será o nome da minha próxima gata, só por causa dela.

E João Gordo, tão incrivelmente falando tudo o que pensa. E Cazé Peçanha, que eu encontrei na Av. Paulista um dia, tão inteligente. E Marina Person e Top Top, um dos programas da MTV que eu mais gostei na vida. Morro de saudades quando escuto a voz dela no rádio hoje em dia, num programa que ela faz sobre músicas de cinema, copiado descaradamente do Movie MTV. Fernanda Lima no Fica Comigo, em uma época que eu nem sabia que um dia seria apaixonada pelo marido dela todo lindo cozinhando lindamente na GNT. Até de Cicarelli em Beija Sapo eu tenho saudade. Marimoon, a única pessoa do mundo que tem os cabelos coloridos mas que permanecem lindos, falando de internet e sentada toda linda naquela cadeira de plástico que vende em uma loja de móveis lá na Rua Augusta e custa R$ 1500,00 e eu namoro toda vez que passo na frente. E Dani Calabresa e Bento Ribeiro, gente? Melhor jornal que o Furo MTV não tinha. E eu assistia todas as noites. PC Siqueira, estreando essa coisa tão na moda agora de trazer pra tv programas que eram feitos inicialmente na internet. Até Bia e Branca, em programas tão xoxinhos, eu curtia só porque elas eram alegres e bonitinhas. E Cidão. E Chuck. E Sabrina (cuja qual eu quase morri quando Jon Bon Jovi se convidou descaradamente pra ficar na casa dela quando viesse ao Brasil). E Cuca. E Chris Couto. E Kika. E Kid Vinil, vindo diretamente de Clip Trip, citado no início desse texto. E Edgard. E Max Fivelinha, histórico. Paulo Bonfá e Marco Bianchi, totalmente excelentes.

Fudêncio que só se fode nessa merda, melhor desenho da tv. E Funérea, a animação que eu queria que fosse minha amiga, no Infortúnio, o melhor programa de entrevista que eu já vi. Me fez pensar até no que eu gostaria que estivesse escrito na minha lápide. Massacration, a banda de rock mais bizarra. Jackass, o programa mais absurdo. VMB, que eu não só assisti, mas votei e torci várias vezes. E o que dizer de todos os Acústicos, que eu amo e estou colecionando os DVDs (e quem quiser me dar algum eu vou amar, tá? Só pra constar eu já tenho Lobão, Gal Costa e Capital Inicial. E ainda quero Cássia Eller, Kid Abelha, Nenhum de Nós, Engenheiros do Hawaii, Barão Vermelho, Legião Urbana, Gilberto Gil, Titãs, Rita Lee, Paralamas, Roberto Carlos, Ultraje a Rigor e O Rappa)

MTV sempre foi o melhor canal da tv aberta. E quando eu não tinha tv à cabo na casa nova, era tudo o que eu assistia, o dia inteiro. Agora só torço pra minha Sky não cair. Do contrário não terei mais nada pra assistir. Agora ninguém nunca mais vai ver Caetano gritar “vamo botá essa porra pra funcionar”. Ninguém nunca mais vai ver João Gordo dar marretada na mesa por uma briga com Dado Dolabella. Ninguém mais vai falar da “puta falta de sacanagem”. Não passarei mais minhas tardes de domingo assistindo Rockgol, o seu único campeonato de futebol que eu curtia assistir.

Hoje eu posso dizer que, quando assisto o Saia Justa na GNT, minhas pessoas preferidas são Monica Martelli e Barbara Gancia. Mas eu tenho um carinho pela Astrid, só por ela já ter sido vj um dia. E fico feliz em assistir aquele programa fofo da Sara que ela entrevista artistas bacanas e até chorou quando entrevistou Rita Lee. E Mariana Weickert no programa também bacana sobre estilo que eu também não perco. Também sou feliz quando assisto aquele programa legal do Multishow e vejo que a Didi anda viajando bastante. E o que dizer da guinada meteórica de Tatá Werneck diretamente para a novela das oito da Globo? E mesmo Marcelo Adnet fazendo descaradamente uma cópia ridícula dos Micons de Marcos Mion no Fantástico, mas ok. Fico feliz em saber que ele está bem. Melhor está, sem dúvida, Dani Calabresa no CQC que eu ainda não vi, mas mesmo não sendo a melhor fase do programa fico feliz em saber que ela foi trabalhar num programa tão legal quanto os que trabalhava na MTV. E Paulo Tifenthaler, que pesquisando aqui, eu acabo de descobrir já ter sido vj. E agora eu o amo muito mais, além do Larica Total, o melhor programa de culinária atual da tv. Mas fico meio decepcionada quando vejo no que a Soninha se tornou. Fiquei querendo bater a cabeça na parede quando vi o João Gordo sendo um reles jurado num programa tipo Astros qualquer (certeza que foi Miranda quem levou, mas ele merece muito mais que isso). Mas, no mesmo programa, já acho ok assistir André Vasco. E o Legendários, gente? Vergonha alheia. Saudades do que Marcos Mion já foi um dia. 

MTV Brasil, sentirei saudades. :~

sábado, 8 de junho de 2013

O dia em que eu resolvi dar aula

Um dia normal. Eu acordei normalmente. Andei até o banheiro cambaleando normalmente como faço todos os dias. Escovei os dentes, troquei de roupa, passei maquiagem, tomei café e fui trabalhar. Peguei o metrô, andei alguns quarteirões, passei o crachá na catraca, chamei o elevador, abri a porta, sentei na minha cadeira e liguei a tela do computador pra ler meus e-mails. Como faço todos os dias. E então eu abri o e-mail que mudaria totalmente o meu conceito sobre dar aulas na vida.


Eu nunca quis dar aulas. Nem pra alunos, nem pra amigos, nem pra ninguém. Quem me conhece (e tem uma pessoa perdida no mundo que me conhece MUITO nesse sentido) sabe que eu pra explicar alguma coisa pra alguém sou a maior lástima da face da Terra. Mas tem um motivo: eu nunca tive dificuldade na escola. Eu sempre fui bem em todas as matérias. Meu boletim era todo azulzinho e as minhas menores notas, aquelas em que eu ia mal mal MAL mesmo (tipo Geografia e História) eram 6 ou C. E eu nunca fiquei de recuperação nem de DP na minha vida. Ou seja: eu sempre entendia as matérias. Os conteúdos. Eu entendia quando os professores explicavam. Minha matéria preferida era matemática e eu sempre achei fascinante como era lindo a gente fazer páginas e mais páginas de uma única conta e no fim, adivinha: o resultado era o certo. Tudo muito bom, tudo muito bem. 

Eu nunca tive dificuldade em aprender nada (até hoje eu aprendo as coisas com facilidade e muitas vezes sozinha) e por isso mesmo nunca entendi as pessoas que têm. Esse povo que pergunta milhares de vezes a mesma coisa. Aqueles que o professor explica tudo cinco vezes e a pessoa ainda vai mal na prova. Gente que tem dificuldade mesmo, mas quando eu estava na escola achava que era só burrice. E talvez eu ainda ache. Não sei. Sei que eu, que nunca tive dificuldade, também nunca tive paciência com quem tem. E quem estudou comigo sabe muito bem que eu entendia tudo da matéria e até tentava explicar para os colegas que não entendiam. E eu explicava uma vez. Duas. Três. E se a pessoa ainda não tinha entendido, a minha reação era sempre "dá aí que eu faço pra você". Eu não tenho paciência pra explicar nada. Eu entendo tudo lindamente, mas na hora de tentar fazer alguém entender também eu sou capaz de bater pra ver se a pessoa fica mais esperta e entende. Eu tenho a delicadeza de um elefante na hora de explicar alguma coisa pra alguém.

Talvez por isso eu sempre achei lindas as pessoas que ensinam. Talvez por isso eu lembre até hoje das primeiras professoras que eu tive, lá no Jardim I. E de todas as que se seguiram depois. Talvez por isso eu lembre da admiração que eu tinha pela professora de matemática mais incrível dessa vida. E da de português, que era a simpatia em pessoa. E da professora de história que parecia ser amiga de Dom Pedro. E da de ciências que contou pra minha mãe que eu estava cabulando aula. E da de educação física que pegava horrores no meu pé. Todas, boas ou ruins, incríveis e enormemente importantes em toda a minha vida. Todas me ajudaram a ser o que eu sou hoje. E se eu me orgulho do que sou hoje, eu devo grande parte disso a todas elas. 


Na hora que eu abri meu e-mail, meu coração palpitou. Em um e-mail de atitude social da empresa, estava o convite para participar de uma ação de voluntariado para dar aulas de ética em uma escola pública. E, em meio a erros no nome da escola que eu quase liguei para o RH pra pedir pra corrigirem, estava lá: a MINHA escola. O nome que por tantos anos estampou a camiseta do meu uniforme. E as minhas provas. E  estampa até hoje o meu histórico escolar. O meu currículo.


Mas, mais importante que isso, estampa também o meu coração. Estampa a melhor fase da minha vida. Estampa o melhor ano da minha vida. Estampa tudo o que eu aprendi lá além das aulas e das matérias. Estampa as tantas fugidas da aula. Os tantos namoricos. As tantas vezes que eu briguei e fiz as pazes com amigos e primeiros namorados. Estampa o tão falado "atrás da escola", onde tudo acontecia. Estampa meu desenvolvimento humano, pessoal. Meu relacionamento com tudo e com todos. Meus primeiros medos, minhas primeiras responsabilidades e também minhas primeiras irresponsabilidades. Meus pensamentos a respeito de que tipo de pessoa eu queria e que tipo de pessoa eu não queria ser. E cada cantinho daquele terreno que fará pra sempre parte da minha vida e da minha história. Cada vez que eu sentava na escadinha ouvindo meu Bon Jovi no meu walkman e à espera de tudo o que ainda viria na minha vida. Tantas coisas. 

Saudade. Saudade de tudo. Saudade de todos. Saudade daquela escola. 


Uma vez alguém disse (deve ter sido a Tary) que acha legal em mim que eu gosto de tudo o que é meu. E é mesmo verdade. Eu gosto da minha vida, das minhas coisas, das minhas pessoas, do meu país, da minha comida, da minha história. E não trocaria nada do que eu tenho por nada do que as outras pessoas têm. 


Eu estudei em algumas escolas na vida e todas têm o seu espaço no meu coração e minha respectiva saudade. Mas duas delas são mais importantes por eu ter passado mais tempo da vida (e consequentemente  aconteceram mais mudanças em mim mesma enquanto eu as frequentava). Uma delas é essa em que eu fiz o colegial (chamava assim na minha época, mas hoje até já mudou o nome pra "ensino médio").

Estudei lá dos 15 aos 17 anos. Primeiro, segundo e terceiro colegial, os melhores anos da minha vida. Eu passei, naquele prédio e debaixo daquelas árvores e correndo da professora de educação física naquelas quadras e cantando pagode com as amigas naquele pátio, a minha adolescência incrível. Faz tanto tempo que até parece que foi em outra vida. Mas é tanta saudade que às vezes eu até sonho que estou lá. Naquela época. Naquele lugar.

Eu sou muito-muito-muito grata à minha mãe por ter me colocado pra estudar em escolas públicas nessa vida. Não sei se hoje é a melhor opção, mas naquela época eu tive até que fazer prova pra entrar nas minhas escolas, porque não era qualquer um que entrava. Tinha maracutaia, precisei de um endereço falso. Minha mãe ficou na fila da vaga da escola de madrugada e eu tive a sorte de ser sorteada (sorteio mesmo, tipo bingo, com comemoração e tudo) pra estudar lá. Era uma época em que as escolas públicas eram muito melhores que as particulares e conseguir uma vaga em algumas era semelhante a passar na Fuvest. Eu consegui. E além de ter podido estudar nas melhores e mais famosas escolas da época (todo mundo da região conhece até hoje a fama das melhores escolas públicas de todos os tempos), eu aprendi também a lidar com o mundo. Porque é sim uma escola pública, mas é no Morumbi. Ou seja, tinha alunos desde os mauricinhos e cheios da grana do Morumbi, até o pessoal mais humilde do Capão Redondo. Nas minhas escolas da vida eu aprendi não só as matérias, mas também a lidar com todo tipo de pessoas. E foi lindo.


Eu não tive dúvidas quando cliquei em "aceitar" no meu e-mail de voluntariado pra dar aula na MINHA escola. E essa semana eu darei aulas pra adolescentes de 15, 16 e 17 anos, exatamente as idades que eu tinha quando vivi os melhores anos da minha vida, em 1995, 1996 e 1997. E então, pensando nisso, me dei conta de que, enquanto eu estava lá na minha escola vivendo tudo aquilo que foi tão bom e tão memorável, havia pessoas nascendo. Pessoas nascendo, naqueles anos tão mágicos da minha vida. E adivinha: são exatamente para essas pessoas que nasceram naqueles anos, que eu vou dar aulas. Eles têm exatamente a metade da minha idade. E estão nos anos mais memoráveis das vidas deles. 

Eu vou chegar lá, com roupa social e sapato de salto, ser olhada e questionada por olhos curiosos e cheios de perguntas. Olhos de moletom e camiseta branca. Olhos que eu tinha enquanto estava na idade deles. E então, quando eu paro aqui pra pensar se vou ter medo ou não de dar aulas para adolescentes, lembro como eu era, há exatos 16, 17 anos, quando chegava alguém de social e salto alto na escola. Eu tinha curiosidade. Tinha medo. Fazia cochichos de "nossa, quem será que é e o que veio fazer aqui?"

Estou ansiosa pra poder dizer pra eles que eu sei como é. Que sei o que é. Que conheço cada um daqueles cantinhos daquele que não é um simples prédio. E que, lá fora, naquela árvore, ainda está escrito o meu nome, que eu cavei com uma caneta pra deixar marcado no caule. Que eu estudei lá, conheci a diretora mais famosa da história da escola e que ela era fazia sim uma escola inteira e milhares de adolescentes andarem na linha. Porque ela conhecia todos eles pelo nome.

Quero dizer pra eles que estudar lá foi uma das coisas mais importantes que eu fiz na vida. E que me trouxe mais tantas outras coisas importantes que tive na vida. E hoje eu sou o que sou também porque estive lá enquanto eles estavam nascendo. 


sábado, 1 de junho de 2013

Enjoadinha

A vida tem muitos momentos. Em quase todos, estamos ali escolhendo nossas preferências. Nosso querer. O que é que faz a gente feliz (né, Pão de Açúcar? Nem tão feliz assim porque o pessoal do meu trabalho já cansou de achar larvas nos sanduíches naturais, tá?). Feliz daquele que consegue escolher, em cada minutinho da vida, o que quer fazer. 

Eu sou uma pessoa feliz (fazendo compras no Carrefour, que além de mais barato, tem produtos com melhor procedência que o Pão de Açúcar) porque posso dizer que absolutamente tudo na vida eu faço porque eu quero. Tudo bem que toda regra tem sua exceção (tipo o creme de leite fresco Fazenda, que eu sou obrigada a ir no Pão de Açúcar pra comprar sempre que eu quero fazer chantilly porque no Carrefour não vende) e às vezes, raramente, eu preciso sair de meus planos e fazer alguma coisa que eu não queria tanto assim. Mas é raro.

Eu acordo 4:45h da manhã porque eu quero. Eu não sou maluca. Eu acordo essa hora porque eu quero morar em São Paulo, porque gosto daqui, gosto do clima, gosto da vida, gosto que tem tudo e que é o centro de todo um país, mas tem um trânsito infernal, então eu gosto de acordar 4:45h da manhã pra sair do trânsito. E, se eu pudesse e se meu estacionamento abrisse antes, eu com certeza acordaria mais cedo. 

Eu trabalho na empresa que eu quero, no horário que eu quero, tiro folgas quando quero, trabalho quando quero e quando eu não quero, não trabalho e passo o dia conversando. Na minha gaveta tem todas as guloseimas que eu quero, eu levo comida pra almoçar porque eu quero, e quando eu não quero eu também almoço em restaurante pra comer o que eu quiser. Eu visto roupa social e sapatilha porque eu quero, saio de casa maquiada porque eu quero, faço o tempo de almoço que eu quero e vou até passear na rua 25 de Março durante o almoço se eu quiser. E, depois de um dia, eu vou pra casa se eu quiser, vou na acupuntura se quiser, se não quiser eu vou fazer curso de jardinagem ou qualquer outra coisa que eu quiser. Chegando em casa, se eu quiser lavo a louça, se não quiser não lavo. Se quiser, eu vou fazer faxina, se não quiser eu não vou nem tomar banho. E nos feriados e finais de semana então, eu vou fazer até o que Deus duvidar. Mas só se eu quiser. 

E de tantos quereres, de repente, me vejo aqui na frente da tela do meu computador, com o mundo da internet a meus pés pra fazer o que eu quiser. Mas acontece que eu não quero. Acontece que, de tudo que eu já pude fazer aqui nessa tela um dia, quase nada que eu quisesse me restou. Eu quero a vida. Quero o sol lá fora, quero o mundo de coisas na minha casa e fora dela pra fazer. Quero abraços reais das amiguinhas lindas que eu fiz aqui. Quero o ar fresco, o vinho, a boa comida, a música, a festa do pijama, a balada, a patinha da minha gata, o beijo na boca e o amor. Eu quero tudo o que por tantos anos deixei de querer. Eu enjoei de internet e agora eu quero mais é ser feliz.


terça-feira, 23 de abril de 2013

Meu pé de laranja lima

Eu devia ter bem uns 10 anos. Me lembro vagamente que foi da minha avó e madrinha que eu ouvi falar sobre esse livro. Ela tinha, entre outros do mesmo autor, um livro encapado com contact de estampa de madeira. Ou seja, o primeiro livro pelo qual eu me apaixonei na vida não tinha uma capa. Engraçado pensar que eu quase sempre escolho um livro pela capa, mas o meu primeiro livro não tinha uma. 

Algum pouco tempo depois me lembro de meus pais dizendo que eu podia escolher um livro pra levar pra mim. Devia ser em uma livraria, mas eu não lembro. Lembro que vi, em um livro pequenininho, o desenho de um menino sentado em uma árvore. E reconheci nesse livro aquele nome que tinha ouvido a minha avó falar sobre: Meu pé de laranja lima. Peguei esse e meus pais me elogiaram dizendo que eu não poderia ter escolhido um livro melhor, apesar de tão pesado para a minha idade. Mas que eu ia gostar.

Eu sou hoje uma pessoa que se acaba na estante de livros estrangeiros em uma livraria, mas que fique claro que meu primeiro livro de verdade foi um livro de um autor brasileiro. José Mauro de Vasconcelos tem um sobrenome igual ao meu. E é claro que aos 10 anos eu já sabia que de um Vasconcelos sempre pode sair uma coisa bacana. Quando a gente quer.

Eu tinha uns 10 anos mas me lembro de ter lido as mais de 100 páginas sem figuras quase que de uma vez. E em meio a uma história tão infantil, mas tão carregada de densidade, eu me identifiquei em algumas passagens. E chorei. Meu pé de laranja lima se tornou ali o meu primeiro livro preferido da vida. Foi Meu pé de laranja lima que despertou em mim o gosto pela leitura.  Gosto esse que se aprofundaria tanto que poucos anos depois eu teria lido todos os livros da biblioteca da escola.

Meu pé de laranja lima é uma história ao mesmo tempo inocente e complexa. História mesmo, porque José Mauro de Vasconcelos se baseou em sua própria infância pra escrever o livro. Carregada de pequenas alegrias e tristezas. Tão do tamanho dos 7 anos de Zezé. E eu, tendo tido aos 10 anos esse como meu primeiro livro favorito da vida, o que mais poderia se esperar de mim senão todo gosto pela melancolia que eu tenho hoje?

Li Meu pé de laranja lima bem umas 10 vezes nessa vida. E chorei em todas elas. Bem eu, que não costumo chorar, me debulhei em lágrimas. Bons livros são os que me fazem chorar.

Mais de 20 anos depois de ter lido meu primeiro livro favorito da vida, resolveram fazer um filme. E lá fui eu assisti-lo. Sozinha, pra chorar o quando eu quisesse. E assim foi. Começou o filme e logo depois da apresentação do patrocínio da Petrobrás, começou a musiquinha e o letreiro com os nomes dos autores. E então minha gente, já foi ali que eu comecei a chorar. E assim foi durante todo o tempo do filme, que eu nem sei quanto durou porque eu estava ocupada chorando. E eu levei uma coca cola e uns salgadinhos na bolsa pra comer ao invés de chorar, mas de nada adiantou. Cinco minutos de filme e eu lá soluçando cheia de salgadinho e aquela coca cola nunca esteve tão salgada. Estava vendo a hora que a outra meia dúzia de pessoas que estava vendo o filme comigo ia vir perguntar se eu estava tendo algum problema. 

Saí com a gola da blusa molhada. O rímel borrado. O nariz vermelho. A calça caindo. O cabelo despenteado. O ápice da falta de sensualidade da mulher brasileira. Mas cheia de consciência do meu estado deplorável, saí do cinema de cabeça baixa e corri pro estacionamento pagar e ir embora. No caminho de casa, fiquei pensando na vida. Nas dores da vida. Nas tristezas da vida. Na densidade da vida. E tudo isso aliado a alguma música melancólica que estava tocando no rádio, chorei de novo. E então a luz do painel piscou. Gasolina. Ok, carro, vamos abastecer. 

Cheguei no posto com a cara vermelha, descabelada, rímel borrado. E eu não sei porque os flanelinhas precisam olhar pra gente pra saber o que a gente quer "moçooo snif boa noitee snif bota cinqüenta reais de gasolina comum snif". 

Foi a gasolina mais cheia de compaixão que meu carro já recebeu na vida. 


O MEU pé de laranja lima

Obs. 1: Se você tem ou ainda vai ter um exemplar de Meu pé de laranja lima dado por mim, saiba que o que eu te dei não é só um livro simples e cheio de ternura. É também um pedaço da minha história e do meu coração.

Obs. 2: José de Abreu, eu sempre te achei bem mais ou menos. Mas agora, depois de interpretar o Portuga, talvez o meu personagem preferido da literatura, você vai ter minha admiração pra sempre.

domingo, 3 de março de 2013

Convidada

Não sei se alguma vez na vida eu fui convidada a escrever no blog de alguém, mas aos 33 anos de vida, se isso nunca aconteceu antes, agora foi o momento.

Hoje tem post meu no Gaiola das Loucas.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Não sentem perto de mim

Ah, a vida social. Tão difícil de viver. Amar cinema, mas ter problemas em frequentá-lo aos finais de semana. Porque sexta, sábado e domingo (e quarta-feira, que é meia entrada!) são os piores dias possíveis para ir ao cinema. São aqueles dias em que as pessoas fazem questão de se amontoar umas em cima das outras. São os dias em que os pais separados levam seus filhos de pais separados para passear. Porque é um dia que eles TÊM que passear. Tipo, um momento que deveria ser leve e feliz e intuitivo se transforma NA OBRIGAÇÃO de ter que levar os filhos para passear. Mas é uma obrigação velada. Imagina. É ótimo levar os filhos pra passear. Foi tudo o que eles sempre quiseram. Babar o ovo do filho só pra tentar ser melhor que a mãe em dois míseros dias. E olha aqui a pipoca, meu filhote. E o refrigerante. E a bala. Blusa. Chiclete. Brinquedo! Vamos no cinema, garotão? Vamos. Que que a gente vai assistir? Ah, sei lá, chegando lá a gente ver. VAMOS VER AQUELE FILME QUE A RENATA QUER VER. E DAÍ A GENTE APROVEITA E SENTA DO LADO DELA, NÃO É SUPIMPA? Então. Essa é a sensação que eu tenho quando vou ao cinema aos finais de semana. Que o mundo inteiro quis sentar ao meu lado. Atrás de mim, a mãe dedicada que lê a legenda do filme para o filho "retardado" que enquanto isso chuta o assento da minha cadeira. Enquanto de um lado a criatura quase derruba o refrigerante em mim, do outro a pessoa não sabe onde botar a blusa que de repente fez o maior calor e, adivinha, sobrou pra ficar no meu colo! E na frente? Na frente sempre senta alguém que DEVE TER DOR DE BARRIGA, ou hemorróida, ou algo do tipo, porque nunca, NUNCA é alguém que para quieto na poltrona. 

Ah, a vida em sociedade. Passear na rua nas tardes de domingo. Aquela paz, aquela calmaria. E todos os carrinhos de bebês do mundo que atravessam ensandecidamente na minha frente bem naquela hora que não dá mais pra brecar. E os cachorros. E as crianças. E os patinetes. Mas quem é que quer passear nas tardes de domingo? Não, melhor coisa é ir no mercado.

Eu e a população mundial. No mercado. Não importa a hora do dia, se não for de manhã cedinho 8h da manhã assim que abre, se eu não vou na hora das velhinhas, adivinha. O mundo todo resolve ir comigo. E aí é um tal de JUNIOR, PEGA ALI O REQUEIJÃO, JUSTO AQUELE QUE A RENATA ESTÁ PEGANDO AGORA que meudeus. O mundo resolve ir comigo, de corredor em corredor, como uma grande canção dos Beatles Love, Love me do. You know, I love you. E então vamos todos juntos, lata de milho a vidro de maionese, cantando e dando as mãos. Às vezes eu tenho mesmo a impressão de que as pessoas fazem uma roda ao meu redor, tipo ciranda-cirandinha. É toda uma emoção.

Mas imagina, eu sou uma moça solteira. Tenho que ir pra balada pra aproveitar a vida. ATÁ. Às vezes eu tenho que me convencer disso. Daí eu vou. Chego no lugar e, danças do acasalamento à parte (em toda balada SEMPRE tem danças do acasalamento), é toda aquela emoção. Sensação de que todo mundo olha pra você porque, naquele momento, você é o frango da padaria que sai dançandinho no meio de um monte de cachorros vira latas, tipo desenho do Pica Pau. Ah, a balada. Ah, a socialização.

Ah, a família. Coisa bonita de se ver. Todo mundo parecido, falando no mesmo tom de voz e com toda a personalidade parecida (imaginem um monte de Renatas falando tudo junto). Família é uma coisa divertida. Aquilo ali de você ver qual será o seu futuro, tudo ali bem diante do seu nariz. É simples, só juntar toda a sua família, bater no liquidificador e voilá. Seu futuro. Aquela bunda caída que a sua tia tem, você também terá. Aquela coisa que a tia avó diz, que os pelos das partes baixas estão brancos, os seus também ficarão. Aquela gastrite/esporão/burcite que você também terá, claro. Tá preocupada com as varizes? Olha a perna da sua avó. Porque a sua também ficará igual. Ah, família. Aquele povo que te diz NOSSA RENATA COMO VOCÊ ENGORDOU/ENVELHECEU/EMPELANCOU desde a última vez que eu te vi! Você viu que sua prima viajou/casou/empirigou/botou silicone na bunda? E você ficou lá limpando a casa enquanto isso? E o trabalho/a casa/os amigos E QUE COISA QUE VOCÊ NUNCA ARRUMA UM NAMORADO! Ah, a família. Gente da gente. 

É por isso que, via de regra, eu prefiro o meu lar. Ah, a tranquilidade da vida. Ah, o meu pequeno sofá fielmente localizado na melhor parede da sala, porque me dá visão ampla de tudo, desde a tv, o céu da varanda e todos os outros cômodos, para o caso de eu assistir The Walking Dead e não ser pega desprevenida por zumbis que queiram adentrar no meu apartamento. Meus quadros fielmente localizados no ângulo perfeito de cada parede, assim como minhas plantas e flores, cujas quais eu já contei quantas argolinhas da corrente que os pendura no teto devem ter, já que elas formam um padrão. Meus discos, meus livros, meus filmes. Todos arrumadinhos em uma harmonia perfeita que dá gosto de olhar (e cujo quarto eu fecho a porta quando recebo visitas, já que esse povo não tem total noção de que não deve pedir NADA meu emprestado - já que, via de regra, é tudo sempre igual: ou não volta mais, ou volta em estado de lixo). Ah, meus armários. Com tudo fielmente arrumado para minha satisfação ao abrir as portas. Como é lindo viver. Sheldon Cooper me entenderia perfeitamente. Mas não só ele.


Em todos esses 33 anos nessa indústria vital, eu achei que fosse única. Achei que minhas neuroses e manias fossem únicas. Mas um dia eu achei alguém igual. MUITO IGUAL. 

Há exatos 19 anos existe uma mineira de Berlândia que consegue ter exatamente os mesmos pensamentos que eu. E as mesmas atitudes. O mesmo pensamento de arrumar desculpas infinitas para os amigos só pra não ter que sair de casa e poder ficar assistindo séries de pijama no sofá. Alguém que prefere viver a party hard da vida no mundinho de um apartamento, assim como eu. ♥ Gente que tem os móveis todos bem dimensionados com relação ao tamanho do quarto. ♥ Gente que tem os livros organizados por cor. ♥ Gente que anda pela rua e não cumprimenta ninguém não porque seja metida, é que ela só vê borrões ao invés de pessoas. ♥ Gente que tem milhares de caixinhas pra guardar não interessa muito bem o que, porque o que importa é ter caixinhas para guardá-los. ♥ Gente que anda pela casa rumo à cozinha com o telefone na mão pra beber água e de repente se vê com a geladeira aberta, sem o telefone que você provavelmente colocou no congelador, tirando a carne pra fazer o almoço mas encontrando a escova de cabelo que perdeu semana passada dentro da panela. ♥ Gente que tem vontade de botar na bio do twitter "pareço gostar de acelga mas sou legal. ♥ ♥ ♥ Gente que, apesar do brilhantismo, é daquele povo que é capaz de andar divamente rua afora até tropeçar fenomenalmente em um buraco e sair caindo em câmera lenta pra todo mundo que estiver passando assistir comendo pipoca. ♥ Gente que as pessoas sempre acharam ser metida porque tem cara de quem comeu e não gostou. ♥ Gente que fica desesperada quando esquece se tomou o remédio ou não - porque isso com certeza é Alzheimer. ♥ Gente que as pessoas nunca imaginam que faça alguma porquice ou mistura gastronômica considerada errada. ♥ Gente que tem aflição com bolinhas (eu não tenho, mas acho extremamente divertido praticar bullying com essas pessoas). ♥ Gente que tem um lugar preferido em algum lugar comum só porque o lugar em si tem particularidades que só a gente percebe e ama - e fica absurdamente nervosa quando algum desavisado o ocupa. ♥ Gente que nunca sabe dizer se o copo está meio cheio ou meio vazio. ♥ Gente que se preocupa em puxar assunto com alguém e estar incomodando. ♥ Gente que tem amigos mas não sabe bem o real motivo de tê-los (eu sei, eles vão lá em casa pra comer). ♥ Gente que passa o dia lembrando de algo pra não esquecer e, no fim do dia, não faz ideia de que precisava lembrar de, inclusive, anotar aquela coisa que esqueceu na agenda, coisa que também esqueceu de fazer. ♥ Gente que não sabe conversar com pessoas (eu por exemplo atravesso a rua e mudo de calçada e vou olhando para o outro lado pelo simples motivo de não saber como conversar com aquele colega de escola que vem andando na minha direção lá longe - é ótimo ter a visão perfeita). ♥ Alguém que as pessoas têm medo de chegar perto, mas que, em todos esses anos da minha vida de blog, é a única que permaneceu na minha vida desde quase o início - e melhor, há vários meses ela faz parte da minha vida pessoalmente também - porque ela existe! ♥ Gente que eu não vou esquecer que eu não fui a primeira a abraçar, mas quando eu consegui foi a sensação linda de reconhecer alguém que há muitos anos eu já conhecia - e admirava absurdamente. E em vez de ela dizer algo comum do tipo "prazer em te conhecer", ela disse "como seu cabelo é cheiroso!" ♥ ♥ ♥

Anna Vitória, essa linda, tem futuro. Não é minha parente de sangue (mas é de coração, porque eu adotei virtualmente como a filha perfeita que eu gostaria de ter), mas eu já consigo prever como ela será só analisando a minha própria vida e vendo como somos parecidas. Anna Vitória, assim como eu, se um dia tiver a pretensão de dirigir (porque eu também não tinha, mas meu patriarca achou que devia ser assim e eu não quis decepcioná-lo) vai estacionar o carro sempre nos mesmos lugares do shopping para não perdê-lo. Anna Vitória um dia terá sua própria casa, cuja qual terá uma harmonia perfeita em sua decoração frufru e cool ao mesmo tempo (aquela coisa de sofá florido com o poster de algum filme foda tipo Pulp Fiction pendurado na parede logo em cima). Anna Vitória terá um guardarroupa com as roupas arrumadinhas por cor (porque tem uma hora da vida que a gente descobre que a gente quer ser uma mulher diva e bem vestida - e arruma todas as roupas estampadas seguindo a cor base de cada estampa), mas que a porta logo ali do lado, a dos papéis, será sempre aquela zona que a gente não consegue organizar (e ao abrir a porta do armário cai tudo em cima da gente). Anna Vitória continuará tendo seus amigos (quanto mais malucos melhor), mas a união perfeita será sempre com o seu animal de estimação (Pandora no meu caso, Chico no dela). 

Mas Anna é ainda melhor que eu. Anna é a personificação do que é saber perfeitamente TUDO o que acontece no mundo relacionado à cultura. Anna é ler todos os melhores livros, é assistir todos os melhores filmes, é escrever desde sobre a sorveteria da esquina até um texto sobre o Oscar que poderia perfeitamente ser publicado na melhor revista sobre o assunto. Anna é a pessoa que assiste quase todas as séries e que, se não assiste, sabe do que se trata. Anna tem a pretensão de viajar e de conhecer e de saber ainda mais do que toda a bagagem que já sabe em seus poucos 19 anos de vida que completa hoje.


Muitas felicidades, minha filha virtual mais admirada e querida do mundo! Te amo infinitamente e te quero pra sempre na minha vida, real e virtual, floreando meus dias, dançando forró, comentando os melhores filmes e as melhores séries e aprendendo com você tudo o mais que eu quero ser de linda nessa vida. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Um chá da tarde fora de série

Rafaela, aquela linda da voz de mulherão e adepta a foie grass e carpaccio, teve uma ideia aí de vídeo falando a respeito de juntar os personagens literários preferidos pra jantar. Analu, sempre ela, me indicou para tal empreitada e, diga-se de passagem, eu não estava presente no momento da ideia do meme porque, né, eu sou uma pessoa idosa e que precisa dormir cedo (e as ideias mirabolantes sempre acontecem de madrugada enquanto eu estou nos braços de Morfeu). 

(magro esse Morfeu)

Conhecido tal fato, venho por meio deste informar que, já que Rafaela é a integrante mais neném da Máfia e eu, terceira idade que sou, não sou a mais velha mas de comportamento eu ganho de qualquer um na velhice, estou no meu total direito de modificar o meme (e a chefe-afilhada-filhaadotivavirtualnúmeroquatro Analu me deu aval para tal).

Então. Não, vocês não vão ver a minha fuça em vídeo. Sabem como é, hoje eu acordei meio descabelada (é verdade). E não, eu não vou imaginar um jantar com meus personagens literários preferidos. Eu vou é fazer um chá. Porque chá é chique, vocês sabem. E como meus personagens literários preferidos são sempre vampiros/bruxas/seres mitológicos e afins e como eu estou um pouco afastada do mundo literário no momento (gente, essa Guerra dos Tronos não acaba nunca, meudeus, eu durmo a cada meia página lida, a história é muito boa mas eu tenho sono, tá difícil) então.... eu vou é fazer um chá. Com meus personagens preferidos DE SÉRIES, beijos. Porque né, eu estou a louca da série (e em séries eu não durmo, yes!).



Então. Dá licença que o chá é meu e eu convido quem eu quiser.



Meu primeiro e mais ilustre convidado com certeza seria o primeiro porque ele tem TOC e precisaria sentar em um lugar feito especialmente pra ele. E como eu me identifico muito, sei como é esse tipo de coisa. Sheldon Cooper, em uma cadeira com estofado de couro marrom e almofada listrada colorida, ele precisa ficar em um lugar estrategicamente planejado e que tenha a distância perfeita entre o bule de chá e a cesta de torradas, mas que seja igualmente bem localizada para que a brisa que vem da janela seja direcionada em sua direção, porém não o sol que o incomodaria.



Ali, bem do ladinho do Sheldon, sentaria George Costanza. George com certeza trocaria com Sheldon altos papos a respeito de como se demitir por fúria do trabalho em um dia e depois voltar no outro como se nada tivesse acontecido. George também pode contar para Sheldon como foi aquele dia em que ele resolveu correr pelado no meio do campo de beisebol, mas como ficou com vergonha, comprou uma cinta modeladora inteiriça e coladinha da cor da pele.




Bem do meu lado na mesa se sentaria nada mais nada menos que Monica Geller. E a seu lado seu brilhante marido Chandler Bing. Chandler ficaria bem ao lado de George (porque Sheldon precisa ficar estrategicamente sentado na ponta da mesa para ser mais fácil de chegar e de sair em caso de qualquer eventualidade e ter menos riscos de levar uma cotovelada já que só tem vizinho de um lado). Chandler trocaria ideias incríveis sobre seu trabalho que ninguém sabe exatamente o que ele faz com George e Sheldon e, enquanto isso, eu poderia trocar figurinhas com Monica sobre como arrumar melhor meus armários e minha grande teoria de como é relaxante lavar o banheiro às 3h da manhã de um sábado. Não há motivos para que eu e Monica não sejamos grandes amigas, já que eu entendo perfeitamente que os castiçais dela precisem ser exatamente em par e estar posicionados exatamente na mesma direção e ocupando o mesmo espaço em cima da estante. Eu e Monica, melhores amigas para sempre.



Do meu outro lado, brincando de casalzinho comigo assim como Chandler e Monica fazem um casal perfeito, estaria simplesmente o melhor oncologista do mundo: James Wilson. O melhor amigo que alguém poderia ter, principalmente porque não importa se o melhor amigo em questão é o maior safado de todos os tempos. Wilson com certeza me amaria como sou, com minhas manias e rabugices e mau humor característico que eu tenho quando me dá na telha, além do fato de eu ter a certeza que Wilson faria de tudo para satisfazer todas as minhas vontades, por mais absurdas que fossem. Wilson seria com certeza o melhor pai, melhor confidente, melhor pulador de janelas pra invadir a casa de alguém suspeito e melhor companheiro para o resto da vida. E eu me casaria com ele fácil.



Na minha frente na mesa, imaginem se eu ia deixar passar, o salve-salve James Sawyer (repare que já é o segundo James da minha vida). Porque entre minhas idas e vindas entre meus personagens preferidos das séries mais incríveis do mundo, eu não o abandono como lugar número 1 nunca. E, sabem como é, mulher de médico, oncologista ainda, às vezes chega em casa depressivo. Wilson tem a maior cara de não dar conta do recado. E pra isso existe o Sawyer. Sentadinho bem na minha frente na mesa, pra eu mergulhar em seus olhos azuis e suas covinhas sempre que possível. Pra roçar as pernas por debaixo da mesa. Sawyer, com aquele olhar de safado e atitude de cafajeste me olharia de canto de olho e daí eu ia enfiar a cara no bule de chá e puf. Aiai. Ah é, o resto da mesa:




Quero como convidados Dexter e Debra Morgan, mesmo que eu ainda não tenha engolido essa história de eles serem irmãos mas Deb ser apaixonada por Dex. Assunto esse que não viria à mesa, porque Dex é muito introspectivo. 


(Glenn promete tomar banho antes de se sentar à minha mesa)

Fato é que enquanto eu e Monica tentássemos convencer Deb que manter uma casa cuidadosamente bem arrumada e com a cama cuidadosamente forrada com lençóis milimetricamente retos, Dex trocaria meias ideias (porque Dexter é um cara quieto) com Glenn Rhee. Ideias muito em comum, aliás, já que matar humanos que merecem e matar zumbis cheios de vida pode ser relativamente parecido. Mas Dex também pode conversar comigo e com Monica, já que, com certeza, o cara é virginiano e mesmo sendo um homem sozinho tem o apartamento arrumado e brilhando.



Então Sawyer de repente olhou para alguém que não era eu na mesa e me lembrei de outro ilustre integrante: Damon Salvatore. Que deixou de ser Boone em Lost para arrumar um novo emprego como vampiro em The Vampire Diaries. Sawyer não gosta dele por ter simplesmente se deixado morrer pra fugir de todo o trabalho duro na ilha. Sawyer não gosta de quem faz corpo mole. Por isso Damon ficará na outra extremidade da mesa. 



À frente de Glenn, quase esqueci mas não contem pra ele: Lafayette Reynolds, porque tem que ter algum gay nessa mesa. Com Lafayette eu trocaria altos truques sobre culinária e moda. Lafayette é o amigo gay e boca suja que todo mundo deveria ter e por isso se daria muito bem com a Deb, mas eu já sei que ele não iria gostar de se sentar logo à frente de Damon, um vampiro. Mas as atitudes de Lafayette são muito mais divertidas quando há um vampiro por perto, por isso é assim mesmo que a minha mesa ficaria.



Do outro lado do Sawyer (porque veja bem que eu confio bastante nas amigas para deixá-lo no meio de várias mulheres - mentira, é só porque eu sei que Sawyer se daria bem com Deb somente no quesito melhores palavrões e expressões de sarcasmo) sentaria Miranda Hobbes, que com certeza trocaria informações peculiares comigo sobre como ser a pessoa mais atrapalhada do grupo de amigos, como colocar o trabalho em primeiro lugar e relativamente muito acima dos relacionamentos interpessoais e como sobreviver a um mês de abstinência de sexo com um bolo de chocolate inteiro comido de uma única vez. Apesar disso tudo, Miranda com certeza é a única de Sex and the City que habitaria meu coração restrito de amizades, já que é a única que pensa racionalmente em tudo o que é relacionado a homens - e é por isso que eu confio plenamente em deixá-la sentar na mesa ao lado de Sawyer.



Ao lado de Miranda, imagina se eu não ia ter nenhuma vilã na mesa, se sentaria Regina Mills, porque além de bruxa (eu adoro as bruxas) ela é incrivelmente a personagem mais rica e inteligente (enfeitiçou TODOS os contos de fada de uma só vez!) e chique e linda (a mais bela!) e a menos mimimi de toda Storybrooke. E eu nunca escolheria uma princesa no lugar dela.



Quem melhor pra sentar à frente de Sheldon, que Chloe Sullivan? Chloe, que sabe se defender muito bem de qualquer que seja a ameaça, mas sabe muito mais de todos os sistemas relacionados a tudo, conversaria no mesmo nível com Sheldon, principalmente a respeito de seu amor platônico por Clark Kent, o lento, já que Chloe levou dez temporadas de uma série nas costas sozinha enquanto o "superman" só levou fama. Chloe, extremamente usada e injustamente eliminada da vida de Clark Kent porque ele preferiu a banana da Lana Lang. Sheldon com certeza se apaixonaria por Chloe a ponto de deixar qualquer Amy Farrah Fowler morrendo de ciúmes.




Na outra ponta da mesa e exatamente ao extremo de Sheldon e Chloe,  as integrantes que também são exatamente o oposto dos dois: Rochelle Rock e Janet Kyle, que já foram vizinhas em Everybody Hates Chris, até Janet conhecer Michael Kyle e se tornar uma incrível mãe de família em My Wife and Kids. Uma em frente à outra e ambas logo ao lado de Lafayette. Pra todo mundo trocar figurinhas a respeito da vida dos outros, claro. 



E, do outro lado de Lafayette, uma linda ilustre presença: Kat Von D (porque a mesa do chá é minha e eu convido pessoas do tipo de séries que eu quiser). Kat é necessária não só pra embelezar a mesa (bem longe de Sawyer), mas também para a troca de figurinhas no quesito tatuagem. Talvez dê algum problema aí com o Dexter, já que Kat tem um quê de ser parecida com Lila, a namorada que ele encontrou no Narcóticos Anônimos. 



Mas Kat com certeza seria ofuscada pela presença de um de meus convidados mais ilustres (e mais gordos): Hugo Reyes, meu Hurley querido e maior amigo de Sawyer. Porque a gente tem que convidar o melhor amigo do amante pra tomar chá, né? E porque Hugo foi o meu segundo personagem preferido em Lost, e com certeza voltará para a minha vida, já que eu fiquei sabendo agora a pouco que ele está presente na segunda temporada de Once Upon a Time, que eu assistirei no final de semana (é, eu sou dessas que assiste uma temporada inteira de série em um fim de semana). Hurley será agora um gigante (Google spoiler fail) e eu AMO gigantes (qual conto de fada que tem um gigante, minha gente?)



Finalmente, sobrou um lugar na minha imensa mesa de 20 lugares. Bem ali, entre a Regina e a Chloe. Um lugar ilustre para uma pessoa ilustre, no canto dos nerds e bem de frente para George, o fanfarrão. E então, já que a mesa é minha e eu convido quem eu quiser da série de tv que eu quiser, bem pensei eu em convidar o Quico. É, o do Chaves. Mas o Quico com certeza atrapalharia os pensamentos mirabolantes de Chloe. Quico tiraria Sheldon do sério na primeira palavra que ousasse manifestar e, imagine, Regina, a bruxa má da Branca de Neve, ao lado do Quico! Ia rolar maçã envenenada na certa. Então decidi que Quico é criança demais pra ocupar uma mesa com bruxas, vampiros e serial killers. E então, veja bem, eu convido quem eu quiser, e tive uma ideia brilhante de alguém que ocupe com louvor esse lugar ilustre: Jamie Oliver (ele também é um James, repare!). Porque se eu convido Kat Von D, com certeza também posso convidar o Jamie. Assim, lindo-lindo e cozinheiro. Jamie não trocaria figurinhas com o também cozinheiro Lafayette, mesmo porque esse estará do outro lado da mesa e também porque Lafayette não suportaria algum mauricinho almofadinha e lindo-lindo dando palpite em suas panelas. Jamie ficaria perfeitamente bem instalado ao lado de Chloe. Porque eles combinam. Porque Chloe precisa esquecer Clark Kent. E ela é tão lindinha que eu até liberaria o Jamie nesse caso. E Jamie do lado de Regina não teria o menor problema: Jamie nunca comeria uma maçã crua e mal feita oferecida pela bruxa, por mais bonita que ela seja. Só Jamie na mesa, porque o cheff Gordon Ramsay estaria na cozinha coordenando o cardápio e a execução dos pratos servidos no meu chá, claro.



Quase findada a lista de convidados do meu chá, esqueci de ocupar as pontas da mesa (porque uma bela mesa tradicional tem que ter 22 lugares). E então decidi que na ponta perto de Rochelle e Janet o lugar seria perfeito para meu personagem preferido de The Fresh Prince of Bel-Air: Carlton Banks. E eu com certeza escaparia de meu lugar no meio da mesa toda hora pra fazer parte da conversa da ponta dessa mesa.





E, na ponta da mesa do outro lado, perto de Sheldon e Chloe, ficará um lugar vazio, para a alegria de Sheldon. Mas é por pouco tempo: só o tempo de eu terminar de ler o primeiro livro de Guerra dos Tronos (faltam só 100 páginas das quase mil gente, eu consigo) porque então começarei a assistir Game of Thrones, cuja ponta da minha mesa de chá será ocupada posteriormente por meu personagem preferido dessa série. Lendo o livro sei que esse lugar pode ser ocupado por Eddard Stark, Jon Snow ou Daenerys Targaryen, mas assistindo a série meus personagens preferidos podem mudar. Aguardemos.


Esse negócio de ter integrantes importantes ao redor de uma mesa é muito importante. Já diria Jesus Cristo

Quem já teve o prazer de comer a minha pizza diria que eu devia servi-la aos meus convidados, ao invés de chá. Imagine Jesus Cristo servindo pizza aos apóstolos ao invés de pão e peixe. Aposto que até Judas teria curtido.


(aposto que o Rei Arthur serviu pizza aos cavaleiros da Távola Redonda)




Finalmente, a dinâmica da minha mesa de chá: