terça-feira, 22 de março de 2011

O Caso do Macarrão

Feriado. Babybrother fazia o almoço. Cheguei pra comer. Ele empolgado lá nas panelas. Eu sentei pra ver tv. Ele me chamou pra olhar o macarrão com argumentos de "está desmanchando". Eu fui conferir. Estava mesmo. Cru e desmanchando em pequenos pedacinhos, como se fosse um macarrão de arroz. Não ia dar pra comer aquilo. E eu sou uma pessoa que não desperdiça molhos de tomate nessa vida. Foi um gênio quem inventou o molho de tomate.

Eu sou uma irmã legal, sabe. Sabendo da veia gastronômica de babybrother, sempre incentivei que ele cozinhasse. E quase tudo que ele se propõe a fazer fica realmente bom. E o incentivo nem é por folga nem nada, porque eu também gosto de cozinhar. Mas porque eu acho bacana incentivar quem quer que seja a fazer o que quer que queira. É sempre legal saber que alguém torce por nós, não é?

Voltando à cena: ele, inseguro, me olhando com receio que eu dissesse algo do tipo "claro que está desmanchando, você não fez direito!". Eu, sabendo disso, perguntei há quanto tempo estava cozinhando, pra dar um toque de interesse à situação. Ele respondeu, eu vi que realmente não tinha cabimento o macarrão desmanchar ali. Eu podia ter dito simplesmente 'tá, vamos comer assim mesmo', mas além de estragar o molho ia acabar com qualquer glamour que qualquer babybrother metido a chef pudesse ter. Aparência do prato é tudo nessa vida. Eu também podia simplesmente ter dito 'tá, vamos jogar fora então, faz outro'. Que foi o que eu disse. Mas não só isso, resolvi completar. Batendo o olho no pacote do macarrão, estava lá: Renata. E então, além do fato de querer levantar a bandeira de 'absurdo o macarrão que o babybrother super chef supimpa fez ficar assim feio', ainda virou questão de honra. Era o MEU macarrão.

Peguei o pacote de macarrão do lixo, tirei foto do macarrão quebradiço. Alguns dias depois, mandei um e-mail para o SAC:

"Boa tarde

Comprei um pacote de macarrão tipo gravata Renata com lote/validade 19/jan/2013 4.6 e gostaria de demonstrar minha insatisfação com o produto, pois apesar de estar no prazo de validade e ter sido bem acondicionado, durante o processo de cozimento - nos primeiros minutos, antes mesmo que ficasse cozido (ou al-dente) - o macarrão começou a quebrar. Em pedaços pequenos, como se fosse um macarrão de arroz, completamente impróprio para consumo. Foi para o lixo o pacote inteiro do macarrão, porque se eu esperasse cozinhar com certeza viraria uma papa. Antes tirei uma foto para anexá-la neste e-mail, como comprovação do ocorrido.

Acredito que tenha sido uma exceção do fabricante, visto que sempre fui cliente fiel à marca e é a primeira vez do ocorrido. No entanto, tive o prejuízo do pacote inteiro jogado no lixo e felizmente eu tinha na hora outro pacote de macarrão, de outra marca, o que me poupou de um maior constrangimento em um jantar com amigos. Espero com esse e-mail alertá-los para qualquer correção ou verificação de qualidade no processo de fabricação, visando e acreditando que o que ocorreu comigo tenha sido um ato isolado e com a confiança de que eu possa continuar sendo uma cliente fiel à marca, confiando que o ocorrido da situação anterior não se repita.

Afinal, a marca do macarrão leva o meu nome. E eu espero que seja um produto de ótima qualidade.

Guardei a embalagem para o caso de qualquer verificação.

Atenciosamente,"


Veja bem: apesar do macarrão ter MESMO se quebrado durante o cozimento, antes mesmo de ficar pronto, e apesar da minha vontade de satisfazer o babybrother dizendo que 'não, a culpa não foi sua, foi o negócio que veio com defeito mesmo', ninguém ia levar a sério se eu dissesse 'foi meu irmão mais novo que cozinhou'. Por isso a mudança no contexto, afinal de contas eu sou uma pessoa séria, com um nome sério e acredito na seriedade do meu irmão, coisa que o pessoal do macarrão poderia muito bem fazer como faz a seguradora do meu carro dizendo "não importa o quão bom motorista ele seja, não pode ter condutor menor de 24 anos, seu irmão está proibido de dirigir o seu carro". Enfim.

Apesar de séria, fiz a reclamação mais por brincadeira, pra contentar ele mesmo, mas fiquei pensando. Um pacote de macarrão custa 3 reais. Míseros 3 reais. Não custava nada (custa, 3 reais, mais a gasolina, mais o estacionamento, mais o tempo gasto, mais a depreciação do motor do meu carro e pneus mais o risco de alguém bater em mim!) eu ir ali no mercado e comprar outro, como sempre fiz até hoje. Mas sabe. Com esses míseros 3 reais eu podia pegar um ônibus. Aliás, o novo valor da passagem de ônibus - que agora custa 3 reais - é motivo de passeata e protestos em São Paulo todos os dias. Tudo isso por 3 reais. Pra mim, felizmente, 3 reais não é nada. Mas pra muita gente é. Por outro lado eu sei muito bem que de grão em grão a galinha enche o papo. Papai me ensinou. E de 3 em 3 reais eu compro um sofá pra minha casa, que nem tv à cabo não tem ainda e eu não pude ver o Red Carpet do Oscar e tenho que assistir BBB). Então assim: por que não reclamar? É um direito meu. Apesar de ser constrangedor (minha mente ressoava 'que miséria, reclamar por 3 reais'), muita gente faz isso todos os dias. Já ouvi história de gente que reclamou do pão de forma porque veio com um buraco no meio. E aí recebeu outro pacote. Que veio com buraco no meio de novo. E então reclamou de novo. E então ganhou outro.

Hoje, rindo e contando do acontecido pra amiga (com ares de 'olha que absurdo o que eu fiz'), ouvi que ela já reclamou que a barra de cereal veio com bicho. E que o bico do desodorante emperrou. Em todas as situações, recebeu novos produtos. E então agora, no fim da história, já estou pensando que preciso prestar mais atenção nas coisas que consumo. Naquela embalagem de óleo de cozinha que vaza. Naquele feijão que veio meio duro. Porque não é possível que só eu pense que é constrangedor reclamar, enquanto as outras pessoas no mundo correm atrás de seus direitos. Outros, ainda, até se aproveitam disso. Reclamando de coisas não necessárias e sendo aí, sustentados por produtos ganhados em reclamações não procedentes.

O macarrão, aquele safado!

A conclusão do negócio (porque talvez vocês estejam interessados tanto quanto os colegas de faculdade do babybrother - estudantes de nutrição da USP, mas eu aposto que o interesse é muito mais pra rir da coisa do que pra estudar o que deu errado na composição de um simples pacote de macarrão) é que eu mandei o e-mail e a resposta quase que automática veio perguntando meu telefone para contato. Eu dei, rindo, pensando que não conseguiria me manter séria durante um contato a respeito de um pacote de macarrão que custou apenas 3 reais. Hoje a moça do SAC me ligou. Eu, depois de muito pensar e já achando que não era tão perda de tempo assim reclamar por 3 reais, respondi perfeitamente todas as perguntas e ouvi que o lote seria analisado, o controle de qualidade ia agir e blablabla. Além dos dados que eu já tinha informado no e-mail, ela me perguntou onde comprei e se era "Renata normal ou Renata com ovos". "Não sei, moça", respondi me imaginando cheia de ovos na cabeça. E ela: "era Renata da embalagem azul?" "Sim!" "Então era Renata com ovos!" No fim, acrescentou: "e no prazo de 15 dias a senhora estará recebendo um novo pacote de macarrão em sua residência".

Eu pensei nos meus porteiros. Aqueles mesmo, que me vêem chegar meia noite dando 'bom dia'. E que eu ligo pra reclamar que acabou a água, mas depois descubro que eu tava era limpando a torneira do registro e fechei o bagulho sem querer. Eles, que sobem debaixo de chuva pra bater na porta da minha casa, eu ocupada, atender "quié?" e o coitado me dizer que minha lanterna do carro ficou ligada. Eles, que ligam desesperadamente para a manutenção do elevador porque eu estou chorando na portaria dizendo que minha chave caiu no vão. Eles, que atendem meus visitantes loucos querendo ir em andares desconhecidos e pedindo para me ligarem loucamente de seus telefones particulares para meu celular pra dizer que 'o fulano esteve aqui pra visitar a senhora'. Eles, que brigam comigo pelo fato do carro estar estacionado fora do lugar porque não tem vaga suficiente naquela p#rra e ouvirem de mim, nervosa, que eu também fico "intranquila" por deixar o carro em qualquer lugar e no caminho desse pessoal que não sabe manobrar.

Sabe. Meus porteiros vão receber um pacote de macarrão. Pra mim.

11 comentários:

  1. Ah minha mãe super é desse time que adora reclamar, fazer valer os direitos, como ela diz. Eu sou daquelas que morre de vergonha de pensar em reclamar por uma suposta bobeira dessas. Mas veja bem, se for pra eu reclamar eu acho o fim da picada, mas adoro quando alguém reclama, hahaha. E viu só, receberá seu pacote de macarrão Renata novinho! hahaha
    Beijos!

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  2. Em compensação posts aqui não faltam, eu li o do Japão no Reader e quando vim aqui comentar já tem outro rsrs

    Guria, eu reclamo de tudo, de bombom (ganhei 3 caixas) do xampu que não cumpre o que promete (ganhei um kit com todos da linha para testar) da fralda quem n vem com os adesivos (ai na época vieram 20 vales de pacotes de fralda, o que acontece é que brasileiro é do tipo que é feio reclamar, mas é simplesmente nosso direito.

    PS: Eu tb queria ter inspiração sobrando pra te fazer companhia.

    Beijos

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  3. Aii guria

    Esse com o nome do Bernardo sou eu, o google tava na senha dele! rs

    Beijos

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  4. Eu fiquei aqui rindo da Jana comentar no nome do Bê e até esqueci o que ia dizer...
    Mas pelo comentario da Jana, vc tira um pouco do que seria o meu, já que essa guria é uma alma gêmea minha MESMO kkkkkkkkkkk
    Ai que horror, sou do tipo reclamão!

    "O macarrão, aquele safado!" <<< eu ri kkkkkkkkkk


    ps: a-d-o-r-e-i o blog =D

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  5. Já recebi um suco em casa porque a soja estava toda empedrada no fundo da embalagem, tava meio nojentinho.
    Ri muito dos seus porteiros! Derrubar a chave no vão do elevador é exatamente o tipo de coisa que acontece comigo hahah


    Vamos lá, rumo à perfeição :)
    beeijos

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  6. Mas sabe Rê que eu passei a reclamar de tudo também nos últimos tempos. Porque, na minha opinião, o problema do povo é que reclama, reclama mas não toma uma atitude, nem que seja entrar em contato com um SAC de empresa. Tem que reclamar sim. 3 reais é 3 reais oras bolas! Fez bem e continue agindo assim viu!
    Beijos

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  7. Olha que o mundo seria um lugar melhor se as pessoas reclamassem por seus direitos. O SAC não tá ali a toa. Foram só R$3, mas como você mesma disse, de grão em grão a galinha enche o papo.

    Beijo

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  8. Primeiro: To puta porque não consegui fazer um comentário no post do BBB porque apareceu uma janelinha falando que novos comentários estavam bloqueados pelo admonistrador do blog (ou coisa parecida), então vim nesse pra poder fazer. Eu to aqui, com um zilhao de coisas pra fazer mas mesmo assim entrei no meu blog pra poder ver o que andava acontecendo.. dai que tava vendo os titulos dos seus posts quando de repente.. "BBB"... eu odeio de morte aquele negócio, é um desprezo que vem do fundo da minha alma e do meu estômago. E não precisei assistir aquela BOSTA por 11 vezes pra saber que é uma BOSTA. Assiti uma, duas e mais ou menos a terceira porque já tava claro que era uma CU aquele programinha com gente incrivelmente idiota. Fiquei chocada.

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  9. PS* essa sua coisa de ser uma pessoa melhor não vai dar certo se vc ficar assistindo aquilo.. AAFFFFF

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  10. agora sim sobre esse post...
    Eu tomei todynho azedo. Foi ruim e eles me devolveram o dinheiro em um "vale qualquer coisa" que eu podia ir trocar no mercado. Mas eu merecia mesmo era um indenização por danos mentais.. porque dar uma golada num toddynho daquele, com toda a vontade do mundo, dirigindo meu carro, e quase gorfar nele.. não teve preço de tão ruim que foi. Até hoje não tomo toddynho com tranquilidade.. eles me deviam no mínimo uma caixa de toddynhos não azedos.

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  11. Rê, um post seu sumiu!
    Entrei pelo painel e não vi.
    Saco...
    Olha,
    eu ligo e reclamo também.
    Caco então é o recordista. Não pode comprar um biscoito mole que liga pedindo para trocar. E eles trocam. A Nestlé pelo menos. Ele até está se especializando em biscoitos de tanto comer e verificar a qualidade.
    Papo de doido? É.
    Mas se é nosso é nosso. Temos que que fazer valer nossos direitos.
    O macarrão não custa 3 reais.
    Custa a expectativa de uma deliciosa e suculenta macarronada com os amigos ou a família.

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