quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Always *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - considerações finais

65 mil pessoas. 28 músicas num show histórico que durou 3 horas e 15 minutos. Eu não sei de onde saiu tanta gente, se tudo o que eu mais ouvi nessa vida foi ‘credo, você gosta de Bon Jovi?’ Mas talvez seja gente como a colega do meu irmão, que comprou o ingresso e disse que ia porque gostava de uma ou duas músicas só. No dia seguinte dizia que nunca tinha visto um cara tão lindo e que queria casar com um daqueles porque ele era maravilhoso e cantava muito bem. Sei.

Eu saí desse show pensando que sempre falei meu gosto musical para as pessoas meio que me desculpando. É, pô, eu gosto de Bon Jovi, desculpa aí, ninguém é perfeito e eu também não. Porque todo mundo seeeeempre encheu o meu saco com isso. Então muitas vezes eu preferi nem falar. Porque como eu já disse, eu não vou mentir meus gostos ou gostar de coisa modinha só porque dá mais status. Eu sou o que eu sou e gosto do que eu gosto, ponto final. Mas muitas vezes prefiro ficar quieta para que as pessoas não recriminem as coisas que eu gosto muito. Sim, eu me incomodo quando falam mal das coisas que eu gosto muito. Mas sabe, quando eu tava aqui fazendo contagem regressiva muita gente me falou muita merda. Tem gente que sabe brincar e tem gente que não sabe. E aí é engraçado ver que depois que o show passa, que foi histórico, que teve repercussão, que foi bacana...... todo mundo foi. Não, porque eu fui. Não, porque foi foda. Bon Jovi? Claro que eu gosto! Daí eu fico aqui pensando que é um bando de gente falsa. Que se esconde por não ter capacidade de dizer que gosta e enfrentar as merdas que todo mundo fala. Ou, pior. Que de ontem pra hoje começou a gostar só porque foi assunto e de repente ficou na moda. Então eu queria deixar bem claro: eu gosto de Bon Jovi. Gosto mesmo, sou fã, foi um dia importante pra mim. E por mais que tenha gente que pense que é inutilidade, que é um absurdo eu ter pago tão caro ou ter sofrido tanto e que não tinha necessidade de fazer tanto alarde.. eu digo pra vocês que oi, o blog é meu, o twitter é meu, o gosto é meu, a vida é minha. E é importante pra mim. Se você foi uma das fofas que acompanhou, curtiu, opinou, pensou em mim, 'me odiou mortalmente' e vibrou comigo a cada momento, obrigada. Se você gostou do meu texto enorme, saiba que eu nem tava esperando que alguém gostasse. Foi um relato meu, pra mim, e nada atrativo, por sinal. Mas obrigada por isso também. Se você entendeu meu “blog monotemático” esse mês, obrigada. Se chegou aqui e viu o que tava rolando e não curtiu, mas ficou na sua pra não jogar areia na felicidade dos outros, obrigada, MESMO. Mas se você não consegue aceitar e respeitar, tchau. E a próxima pessoa que vier me perguntando “e aí, como foi o showzinho da sua vidinha?” vai falar com a minha mão. Com a minha mão diretamente se posicionando em direção à sua cara, pra ser mais precisa.

O show foi maravilhoso e teve tudo o que precisava ter, sim. Jon é fantástico e sim, é uma delícia – e tem 48 anos. E aí depois de tudo tão perfeito, tão lindo, tão sensacional eu tou aqui pra dizer que se antes meus gostos não eram suspensos por palitos de dente, barra de aço agora é pouco. Porque EU SIM sempre gostei de Bon Jovi, essa banda que saiu aí dando o que falar porque os caras estão todos beirando os 50 anos e lançam CDs todo ano. Porque fizeram um show pra ninguém botar defeito, cantaram as músicas antigas e queridas para agradar o público e que banda nenhuma faz isso mais em show. E cantaram as novas também porque estavam aqui pra isso e ficaram surpresos que todo mundo sabia cantá-las também. Eu sempre fui fã e Bon Jovi sempre foi minha banda favorita e isso não vai mudar. Aliás, vai sim: se antes eu era fã, agora sou três vezes mais. E eu pagaria mais três vezes isso para ter três vezes disso. Tenho o maior orgulho de dizer que eu tenho mesmo um gosto sensacional e que a minha preferida é uma banda foda assim. Um pessoal que tocou até não conseguir mais, pra agradar ao máximo fãs de um país que fazia 15 anos que não visitavam, mesmo que das últimas vezes que tenham vindo aqui tenha tido só mico e eu tenha sentido vergonha alheia por meus conterrâneos brasileiros. E apesar de ter muita gente por aí dizendo 'mas eu tava no mesmo restaurante que eles e pedi foto e eles disseram que não' eu digo que é bem feito. Queria ver se fosse você que estivesse lá com a boca cheia de macarrão (babybrother falou que Jon tem cara de gostar de macarrão) e chegassem meia dúzia de adolescentes gritantes e chorantes, se você ia curtir. Quando é uma vez na vida ainda tudo bem, mas e quando é a vida toda? Eu dou razão pra eles. Eu concordo com eles. E acho que mesmo eu tendo queda por gente antipática e mesmo eu já sabendo que eles eram assim... ainda me surpreendi com o carinho que eles tentaram demonstrar por nós. E se antes era difícil selecionar um top 5 ou top 10 ou top 100 músicas de Bon Jovi que mais gosto (como a Mônica que me disse que seu professor de violão pediu que ela levasse um cd com as 10 músicas de Bon Jovi que ela mais gostava e ela levou 100), agora então ficou impossível.

E por mais que muito homem saia dizendo que o Jon é gay, tava cheio de homem lá no estádio. E eu não vi nenhum gay não, é o primeiro show que eu vou na vida que não vejo nenhum gay. Mas no fundo eu acho que é inveja. Fato é que Jon Bon Jovi lota um estádio com 65 mil pessoas e, em sua grande maioria, mulheres. E o cara é mesmo foda, é mesmo lindo e leva a mulherada à loucura fazendo tantos biquinhos, dancinhas e reboladinhas. Eu, inclusive. Mas ele falou na reportagem que tem sentido crescer o público masculino em seus shows. E que se pergunta... onde estão as garotas? E aí, que homem vai admitir que está indo no show do Bon Jovi (e a desculpa do ‘tou levando minha namorada’ não está valendo)?? E, para a infelicidade do mundo masculino em questão... ele não é gay não tá?. Eu vi, eu estava lá bem pertinho. E eu sou bem boa pra perceber essas coisas, vai por mim. Deixo então aqui pra vocês o link do Registro Dissonante, também indicação da Isadora (todos os asteriscos de todos os títulos com nomes das músicas do show completamente relacionados aos meus momentos se referem aos créditos dela), com um texto sobre o show não tão apaixonado como o meu, mas ótimo mesmo assim. Muito bem escrito por um homem – e que não me parece muito levar jeito pra gay.

E eu queria dizer pra vocês que esse dia foi o melhor de todos sabe? Que nem que eu assista outros shows do Bon Jovi outras vezes, nem que eu fique sócia do backstage e entre nos bastidores pra tirar fotos com as guitarras igual eu vi num Orkut de uma menina lá (que graça tem ver as coisas sem a presença dos caras?), nem que eu viaje pra outros países pra ver o show fora do Brasil e nem que eu tivesse ficado nos mesmos hotéis que a banda e compartilhado momentos na piscina, academia e restaurante, como outra menina se gabava lá no Orkut, dizendo que “são pessoas normais” - eu não quero saber que são pessoas normais, pessoas normais eu vejo todo dia. Não vai ter igual. Porque nos outros países não há brasileiros. E por mais que a gente seja macaco e eu sinta vergonha alheia por algumas coisas, a energia que existe aqui não tem mais em lugar nenhum. Imagina eu lá na Europa, pulando horrores enquanto o resto do público se limita a me analisar. E mesmo que eu tivesse toda essa grana que o pessoal do backstage tem pra seguir os caras pra lá e pra cá... não ia ser igual. Porque quem pode fazer essas coisas sempre não sente a emoção de realização de sonho que eu senti. Não vibra, não participa, não sofre na fila. Como todo astrólogo diz, os capricornianos precisam passar por dificuldades para darem valor às coisas quando as conquistam. Eu não sei se acredito muito em astrologia mas tenho que reconhecer que se eles se referem a mim nesse sentido estão é totalmente certos. E que quando vocês, algum dia, me verem sozinha e sorrindo na rua... saibam que eu estarei lembrando desse dia único e inesquecível.


♪ We weren’t born to follow
Come on and get up off your knees
When life is a bitter pill to swallow
You gotta hold on to what you believe
Believe that the sun will shine tomorrow
And that your saints and sinners bleed
We weren’t born to follow
You gotta stand up for what you believe
Let me hear you say yeah, yeah, yeah, oh yeah

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Blood on Blood *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 13 (talvez Jason Voorhees também tenha tido a idéia de escrever sobre os dias mais legais da vida dele... vai saber. Ôpa que meu dia especial deu 13 partes e domingo é Halloween!)

Saí rápido, no meio da muvuca mesmo, dando as mãos para meninas que eu nunca tinha visto mais gordas e continuo sem lembrar da cara delas, só porque elas queriam pegar a rabeira da minha pressa. Mas saí rápido não só porque o babybrother me esperava. Saí rápido pra não dar tempo de ficar triste. Tudo tinha sido perfeito demais pra acabar num sentimento de tristeza. E eu não podia deixar que isso acontecesse. Felizmente saídas de show são o maior salve-se quem puder e eu me surpreendi comigo mesma por toda a educação que tive de pedir licença para as pessoas com jeitinho porque queria chegar do outro lado de um estádio lotado. Tipo assim, só eu queria andar na direção contrária. Disposição e simpatia. O que um show do Bon Jovi não faz com a minha pessoa? Encontrei a Mônica no caminho, que me seguiu até a barraca de souvenires oficiais. Com pressa, o pessoal se matava pelas coisas. Eu me enfiei lá e angariei a camiseta que queria desde o início, por 60 reais. Eu achei barato. No show do Aerosmith de 2007 as camisetas oficiais eram 120! E aí eu aproveitei e comprei um álbum de fotos, porque já que eu já tinha pago o olho da cara no ingresso mesmo, precisava de lembranças. Bem bonito, vou guardar pra sempre. Mais 50 reais.

Deixei a Mônica lá sob protestos, mas até ela comprar tudo eu já tinha ido no fluxo e não nos encontramos mais. Segui sozinha pela rua, suada, melada, descabelada, com a marca de óculos escuros na cara vermelha que denunciava todo o meu tempo na fila. Com dor de garganta e em todos os músculos possíveis e imaginários (e os que eu não imaginava que tinha, inclusive). Cheia das faixas de Bon Jovi amarradas na cintura, com a fitinha de pista vip já toda maçarocada no pulso, abraçada na minha sacola com a camiseta e o álbum oficial oficial. Sorrindo, feliz.

Me perdi. Não, eu não moro no entorno do estádio há 28 anos. Não, eu não tou careca de saber como são as ruas. TÁ, EU SOU UMA ANTA. Anta perdida, por sinal. Quando eu vi, estava numa rua diferente da que eu tinha que estar. Meu irmão reclamou que eu demorei pra chegar. Mas não ficou sabendo que eu me perdi. Fica um segredo aqui entre nós, tá? Cheguei no local combinado e fiquei sabendo que ele tinha dito pro amigo “a minha irmã vai estar de camiseta preta do Bon Jovi, fica olhando aí”. Babybrother puxou a irmã na hora de tirar sarro com a cara dos outros, sabe? Só o estádio inteiro, 65 mil pessoas, estavam usando camiseta preta do Bon Jovi.

Eu tinha pensado em ir no carro quieta. Tava tudo doendo e a garganta mais ainda. Mas não consegui. Eu tive que contar pra ele cada detalhe, cada biquinho, cada piscadinha e o fato de Bon Jovi ter cantado um trecho de música pra mim. Ele, animado, ouviu, opinou, conversou. Podia simplesmente ter ficado quieto e me mandado calar a boca, como faz às vezes. Ou podia ter enchido o saco e jogado areia falando qualquer coisa do tipo ‘ele é gay’ ou 'ele faz isso pra todo mundo', como muita gente faz. Mas não. Foi a primeira vez que eu soube que ele estava feliz em ver a minha felicidade. E foi bonzinho em me ouvir e deixar que eu curtisse meu momento e ainda me contou que assim que ele e o amigo saíram do estádio ouviram uma menina dizendo em voz alta, alto e bom som: “ah, que bom que eu vim no show, agora o Bon Jovi vai morrer mesmo mas ele pode morrer agora que eu já vim!” Continuou viva a pessoa que disse isso. Que pena.

Me deixou em casa e eu quis descer do carro sem tênis. Ele me olhou com desaprovação e me mandou colocar. E agora sim eu passei pelo porteiro. Acabada, cansada, dolorida. Mas ostentando uma bela camiseta do Bon Jovi que, com meu sorriso, completavam a felicidade e o orgulho por demonstrar onde foi que eu passei o dia.

Chuveiro, janta, cama. Eu já tinha deixado tudo preparado para a minha chegada. Eram 2:30h da manhã do dia 07 e eu não queria dormir pra não acabar o dia que já tinha acabado há algumas horas. Às 3h e alguma coisa o cansaço me venceu. E eu adormeci enquanto meu cérebro cantava ‘ô-ô! Livin ‘on a prayer!’



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Have a Nice Day *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 12 de 2035

As luzes acenderam, os caras saíram dos instrumentos, deram as mãos, agradeceram. Jon ficou abaixado muito mais tempo que os outros, porque pareceu mesmo estar muito agradecido por tanto carinho. No twitter depois, o agradecimento: “Thanks to EVERYONE who came & showed us the love. We will be back soon!”

E então antes de saírem do palco, todo mundo continuou a gritar desesperadamente o que quer que fosse. Alguns pediam música, alguns pediam pra voltar e alguns gritavam só por gritar mesmo. Eu, acabada e com os cabelos encharcados de suor, não conseguia pensar se ainda faltava alguma música das minhas favoritas que eles pudessem cantar. Pra mim Jon podia cantar até atirei o pau no gato que eu ia amar. Já tava sem voz mesmo e fazia tudo o que podia pra emitir algum som plausível. E então eles pararam de analisar e apontar sei lá o que, a estrutura, a galera, a muvuca toda. Eu tentava ler os lábios mas esse pessoal fala um inglês muito caipirês para o meu inglês britânico. Fato foi que eles pararam pra prestar atenção no que o pessoal gritava, e de uma breve reunião no palco decidiu-se. E tocaram Bed of Roses.

Eu já tinha me consolado sabe? Já tinha pensado que beleza, tava todo mundo cansado, eles mal conseguiam pegar seus instrumentos tudo de novo e tal. Era nítido o cansaço, mas mesmo assim eles foram lá e fizeram pra agradar a galera. Tocando mais uma música pedida aos berros. Foi bonito. E eu sabia que tinha acabado. Chorei.

No fim da música, ovacionados, eles agradeceram rapidamente e saíram meio que cambaleando do palco, muito cansados. Porque se eles ficassem lá a gente ia continuar pedindo músicas. E eles disseram para a imprensa que fariam show até quando o público quisesse. Ah que isso é mentira porque se dependesse da minha vontade eu tinha trazido todos pra casa e eles estavam aqui tocando pra mim até hoje. Eu ia me afogar nas dívidas de multa de silêncio do condomínio. Mas ia morrer afogada e feliz. No dia seguinte, em notícia na internet: “Em vez de um final apoteótico, Bon Jovi preferiu uma despedida do palco paulistano mais melancólica, com a lenta Bed of Roses e sem uma palavra. Apenas os olhos azuis marejados, uma batida com o punho do lado esquerdo do peito e nada mais”.

Demos tchau com as mãos, as luzes acenderam, a música ambiente começou a tocar, o roadie jogou umas palhetas para a platéia, porque o Richie não fez isso. O pessoal se matou pra pegar e eu lembrei da vida. Acordei. Lembrei do babybrother que me esperava. Lembrei que eu precisava de um banho. Lembrei que queria comprar uma camiseta oficial. Mas meu coração estava ali, ainda, na boca. Eu ainda estava ansiosa e feliz, muito feliz. Pensava que ia escrever um post enorme, aos poucos, cheio dos detalhes. Queria lembrar de tudo, cada coisinha. Pra mim mesma. Pra manter meus sentimentos pelo máximo de tempo possível. Pra eternizar meu momento. Meu dia. Pra saber que eu não sonhei. Que eu vivi isso, de verdade. Eu senti uma felicidade como há muitos anos não sentia. E queria mesmo é que toda a alegria e toda a emoção que eu senti não saíssem nunca mais de dentro de mim. Porque eu saí diferente daquele ‘simples’ show. E saí querendo ser assim pra sempre.



domingo, 24 de outubro de 2010

Livin 'on a Prayer *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 11 de 1849

Fazia um tempo já que a galera ao meu redor gritava “blayglory” e eu tava toda lá pensando que.... que música será essa, Deus? Como assim que eu tenho todos os CDs e não conheço? Tipo, cantou um dia lá num cd não oficial e o pessoal tá pedindo ou o que? AAAh, pode ser Blackout. Não, mas também não tem nenhuma música que eu conheça com esse nome. Tem Breakout mas sei lá, não é tão conhecida assim pra estar sendo tão pedida. Daí depois de um tempo eu processei. Bon Jovi tem músicas com nomes relativamentes grandes demais pra serem pedidas assim em show. Não é o caso dessa, mas o pessoal meio que abrevia pra ficar mais fácil de pedir e tal. É meio como um apelido íntimo, sabe? E aí eu entendi que o nome da música pedida era Blaze of Glory. Engraçado que quando eu entendi fiz coro também. E a menina que tava do meu lado e me olhava às vezes olhou também quando eu entrei no coro. E aí deu só ela pedindo uma música com nome nada a ver lá, coitada. Acho que ela também não entendeu qual era o esquema da coisa.

Então veio Blaze of Glory e depois I’ll be there for you e eu lembrei do babybrother que tinha dito que não gostava muito dessa. É meio mela cueca mesmo, daquelas que a gente acaba com a garganta de cantar o refrão e tals. Por isso mesmo, todo mundo sabia, todo mundo cantou. Aliás TODO MUNDO CANTOU TUDO. Lá ao meu redor pelo menos, assim que tocavam o primeiro acorde de cada música, o pessoal já entrava com a letra. Do primeiro disco da banda ao último. Todo mundo sabia tudo. Em uma música teve até o primeiro acorde, a galera entrou... e o Jon fez um sinal de não assim com o dedinho (fofo!), pra dizer que a gente entrou errado. Ai que se duvidar a galera tava sabendo cantar as músicas mais que ele.

Daí que todo mundo acabou com a garganta no I’ll be there for you e depois começou Have a Nice Day. I’ll Sleep When I’m Dead, Work for the Working Man. E Jon trocava de camiseta algumas vezes durante o show. Talvez não por ser um showman, mas porque estava transpirando muito mesmo. O bom é que nas fotos a gente pode analisar: de preto ele fica lindo. De azul ele fica gato. De vermelho ele fica divino. E eu penso que se esse cara usar uma roupa verde de bolinhas roxas eu vou achar sensacional.

Tocava Who Says You can’t go Home, e então veio Keep the Faith. Jon pegou as maracas e eu me preparei pra gravar ao vivo a única estrofe não cantada de suas músicas. Que eu ouvia à noite no walkman quando era adolescente e pensava que queria um namorado com uma voz como aquela pra sussurrar no meu ouvido. E aí eu gravei sim mas talvez não com tanto sucesso, porque o cara atrás de mim estava não sussurrando, mas gritando as frases no meu ouvido como se não houvesse amanhã. Sei lá. Às vezes ele sonhou em ser o cara que sussurra no ouvido de alguém. E aí eu até pensei em avisar que ele tava errando assim, levemente, no tom. Mas evitei a fadiga.

Daí a música acabou e os caras saíram do palco e eu fiquei nervosa. O show tava acabando. Podia ter mais uma ou duas músicas de bis só. E eu nem vi o tempo passar! O que? Os caras tocaram uma meia hora só! Não deve ser nem 10 horas da noite ainda! Como assim já vão??? Então conforme combinado todo mundo levantou os cartazes de Happy Birthday Tico para o baterista, que quando Jon voltou para o bis, viu e puxou o coro pra cantarmos. E aí eu senti vergonha alheia do pessoal que não sabe cantar nem parabéns pra você em inglês. Jon se deu por satisfeito com a repetição de ‘Happy birthday to you’ por 4 vezes, porque NUNCA que ia sair um ‘happy birthday dear Tico’ dali. Mesmo assim, li no twitter oficial depois “Fans in Sao Paulo have come up with a very cool way to wish Tico a happy birthday”. Eles se contentam com pouco.

Voltando ao show, tocaram These Days, porque a galera tava pedindo e é a preferida de muita gente. Wanted Dead or Alive, uma das minhas preferidas e Someday I’ll be Saturday Night, que eu nunca pensei que ouviria pessoalmente em show nenhum. Porque eu gosto muito dela sim, mas no cd ela vem respectivamente antes de Always. E isso é quase como ir pra balada com a amiga loira, alta e magra, sabe. Mas eu acho que gosto dessa música justamente por ela ser amiga da favorita. Sei lá, da mesma turma. Gostei.

Depois teve Livin ‘on a Prayer e eu já tava chorando não só por ser a música principal da banda, aquela que todo mundo conhece e que quem não conhece a banda diz que eles só têm uma música e pode crer... é de Livin ‘on a Prayer que a pessoa está falando. Mas tava chorando porque eu já tinha visto na internet que é a música que costuma fechar os shows. E eu não tava acreditando, não tava querendo, não queria acordar. Não queria que acabasse nunca e enquanto ele cantava que “ô-ô livin ‘on a prayer” eu, com as mãos levantadas e cantando pedia aos céus que o momento parasse ali e que não avançasse nunca mais. Eu queria ficar ali na muvuca sendo encoxada e levando pisões no pé pra sempre. Comendo cabelo. Suando, chorando, com sede e dor no pescoço. Com os braços doendo tanto que eu não conseguia nem levantá-los mais totalmente, já apoiava em cima da cabeça pra descansar um pouco. Com a garganta doendo, sem voz, pescoço acabado, não sentia as pernas há tempos. Mas mesmo assim eu queria que o tempo parasse ali, naquele momento. Queria que ele cantasse pra mim pra sempre. Que não fosse embora. Que eu não tivesse que lembrar de tudo como se tivesse sido um sonho. Eu não gosto de sonhar. Gosto de realidade.

sábado, 23 de outubro de 2010

It's my life *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 10 de 1732

Cabou a música, Richie sentou lá com sua guitarra e daí eu até esqueci a indignação por ele ter cantado uma das músicas mais famosas. Porque Jon tinha ido descansar a voz. E voltou cantando Always, a minha preferida. Daí, minha gente, meu mundo caiu. E eu lembrei de quase todas as 697 vezes que já ouvi e cantei essa música na vida. Lembrei da escola, lembrei do meu walkman, lembrei das coisas que passaram. E chorei feito criancinha. Criancinha não que criança chorando é uma coisa normal e a gente tá acostumado. Sei que adulto chorando é uma coisa horrível, a cara incha, fica vermelha, baba, funga e transpira. E eu devia estar mesmo com uma cara péssima e perigando passar mal, porque a menina que estava do meu lado me olhava assim durante o show como se eu fosse cair a qualquer momento. Não sei qual era a dela não mas eu nem perdia meu tempo pra olhar pra ela, só via de relance ela mandando beijinho para o Jon durante o show (achei bonitinho), porque eu tava ocupada chorando horrores na música da minha vida. Babybrother depois me contou que lá da arquibancada nem deu pra ouvir a voz dele nessa música, porque o estádio inteiro cantou muito mais alto. Achei legal saber disso. Deve ser a música da vida de muita gente.

Pudera. Fala que o cara é corno e tals. Enfim. O pessoal deve se identificar.

Daí eu lembrei que estava lá. Por mim, pra mim. E que estava imensamente feliz por isso. Estava feliz por não ter um namorado pra ficar no meu pé e não me deixar curtir a coisa toda. Porque a maioria deles quer ir junto e depois gruda, pega, enche, segura, reclama se você canta, quer saber porque você chora, não te deixa dançar, enche o saco se você pula, fica com ciúmes do cara que está lá cantando, arruma briga com alguém que esteja te olhando. Namorado ia só me encher o saco nessa hora. Eu tava livre. Feliz. E então quando mais alguém me perguntar, eu vou saber responder. Naquele dia, naquela noite da minha vida, eu fui 100% feliz. Eu planejei, me preparei pra isso. Pensando só em mim. Fazendo aquilo só por mim. E não precisava me preocupar se tinha alguma amiga do meu lado que não estava curtindo o show tanto assim. Nem se tinha algum parente querendo morrer e desmaiar e ir ao banheiro e passar mal e beber água ou alguma outra coisa do tipo do meu lado. Porque apesar de não parecer, eu não sou egocêntrica, sabe? Eu nunca penso só em mim. Eu estou sempre olhando para quem está comigo, querendo saber se está bem, se está feliz, se está curtindo como eu. E acabo esquecendo de mim. Acabo esquecendo que muitas vezes EU é que tenho que curtir. Eu é que tenho que desencanar dos gostos, dos pensamentos, da vida, dos piripaques dos outros. Dessa vez eu não tinha ninguém e foi a melhor coisa que eu fiz nessa vida. E eu acho mesmo que é uma das poucas e raras sensações de felicidade por mim mesma, sabe? Depois fiquei pensando. Casar é uma felicidade para a maioria das mulheres, mas a gente tem que dividir isso com o noivo, claro. O noivo tá sempre morrendo, o noivo tá sempre querendo tirar foto, o noivo tá sempre querendo vender a gravata, o noivo tá sempre querendo desmaiar no altar, o noivo tá sempre querendo ir logo pra noite de núpcias. E ter filho também é uma felicidade para a maioria das mulheres. Mas daí também a atenção é voltada para a criança, tem que cuidar, tem que fazer, tem que olhar, e ah que cuticuti que fez cocô. Todas as outras situações de felicidade da vida envolvem outras pessoas além de nós. Mas eu consegui ter um momento de felicidade só meu. Só pra mim. Só comigo, só pensando em mim. Sendo eu de verdade e sem pensar se alguém tava olhando ou me recriminando. Curioso foi saber depois que naquele momento O MUNDO INTEIRO estava pensando em mim. Gente que sabia que eu tinha ido, gente que só imaginava, gente que sabia que eu tava curtindo, gente que sabia que eu tava morrendo de emoção. Todo mundo lembrou de mim, enquanto eu não lembrei de ninguém. A vida é mesmo curiosa.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Superman Tonight *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 9 de 1645

We Got It Going On, It’s My Life, Bad Medicine. E então no meio dessa, Jon olhou para a platéia e disse “Are you still with me out there?” E continuou explicando que tocariam algo “Just kind a relax, just kind a enjoy the woman”. Resolveu fazer dueto com o baixista e aí chegou o momento da minha vida.

Eu sei que eu já falei, coloquei videozinho e tudo. Mas vou falar de novo, que é pra daqui uns anos quando eu ler isso aqui ter certeza que não foi um delírio de um dia. Aconteceu mesmo. De verdade. Começou o solo de Pretty Woman, Jon chamou o baixista pra cantar e eu pensando puts... desperdiçar uma música assim cantando Pretty Woman? Essa eu já sei, já conheço, já enjoei... mas tá bom que a voz dele é linda e vamo lá que ele deve estar é querendo homenagear sua bela platéia de mulheres, já que dizem que as brasileiras são as mais lindas do mundo e naquele momento ele tinha um Morumbi inteirinho lotado de mulheres brasileiras só pra ele e tal. Beleza. Eu tava tão de boa que guardei a máquina na bolsinha e fiquei lá zuzu bem. Aí que Pretty Woman é uma música relax, não precisa pular, não precisa levantar os braços, não precisa fazer corinho de ôô nem mãozinha rock ‘n roll. Tá, vou fazer o que com as mãos então? CORAÇÃOZINHO. Assim, bem brega mesmo. Bem público Restart. Ah, dane-se, Jon Bon Jovi felizmente nem deve saber o que é Restart e lá no resto do mundo ninguém deve ser retardado o suficiente pra fazer coraçãozinho com as mãos. Farei eu, então.

E daí deve ter sido tão peculiar que ele viu. Olhou para as minhas mãos, olhou pra mim. E aí sim, naquele segundo o meu mundo parou. Como que retribuindo, enquanto cantava “Pretty woman, that you look lovely as can be. Are you lonely just like me?” levou a mão direita ao peito e fez um gesto na minha direção, como que se me entregasse seu coração. Sorriu o sorriso mais lindo do mundo todo e ainda completou com o tradicional “RRR” que a música original tem nessa hora, mas que quando ele fez não deu pra ouvir, só percebi no vídeo que a Lilica achou pra mim no youtube. Mas essa hora eu não estava mesmo em mim. Eu estava lá no paraíso, se é que ele existe. E devo dizer pra vocês que uma coisa é fato: eu sempre pensei que lá no além deve ter alguém que fica encarregado de fazer o trailer da nossa vida, sabe? Aquela seleção de cenas que todo mundo diz que a gente vê sobre a nossa vida nos segundos antes da morte. Ver a vida inteira passar pelos olhos. Então. Daí eu fico pensando nas cenas que eu gostaria que passassem no meu trailer nessa hora. E aí eu queria saber com quem é que eu tenho que falar pra poder passar esses 10 segundos. Bon Jovi cantando Pretty Woman pra mim. Porque isso TEM que passar nos meus últimos segundos de vida, sabe? É uma coisa tipo assim pra estar morrendo e dizer EU SOU LINDA PRA CARAMBA MESMO JON, E TOU SOZINHA ASSIM TIPO VOCÊ!!!!


A conclusão é que nos últimos segundos de vida de muita gente vai tocar Fernando e Sorocaba. Ou que ‘Dako é bom’. Ou alguma música do Restart que eu me recuso a procurar o que quer que seja sobre isso no Google e não sei nenhuma pra citar. Ou a nova moda do ‘o meu nome é Valeska e o sobrenome é quero dar’. Nos meus últimos segundos de vida vai tocar Pretty Woman com Bon Jovi nos vocais e mandando coraçãozinho pra mim. E que se dane quem achar que isso é brega. O fim da vida é meu e eu faço meu trailer de últimos segundos como eu quiser. Pretty Woman pra mim virou de ‘enjoei’ pra uma das músicas favoritas da minha vida. E nem é por causa da Julia Roberts lá toda dando uma de linda mulher. Eu sou bem mais eu. E foi o Jon Bon Jovi que falou. ♥


Enquanto eu me recompunha dos meus 10 segundos de sonho, pensava que meodeusdocéu como eu devia estar GATA, descabelada, suando, vermelha, gritando... mesmo assim Jon Bon Jovi cantou PRETTY WOMAN pra mim. Imagina só se ele me visse arrumada e maquiada? E então Bon Jovi terminou de cantar Bad Medicine e depois dessa Jon nos deixou com os vocais de Richie Sambora em Lay Your Hand on Me. Aí eu fiquei meio que decepcionada. Pra mim Richie nasceu pra tocar guitarra e só. Não sei quem foi que falou pra ele que dá pra quebrar um galho cantando sabe. Eu sei que fora do Bon Jovi, Jon tem 2 cds solo e eu tenho os dois e adoro todas as músicas tanto quanto as com a banda, ou talvez até mais, não sei. E Richie também tem um cd dele, que meodeusdocéu eu não tenho nem pretendo ter. Mas sei lá né. As trocentas fanáticas ao meu lado super curtiram o momento de cantoria de Richie. Elas bem que devem ter aquele cd. E enquanto eu cantava pensava que pô.... tudo bem, vamo dar uma oportunidade pro Richie cantar, ele também quer ser estrelinha........... mas JUSTO em Lay Your Hands on Me? Tipo assim, depois de Livin ‘on a Prayer é a música mais importante da banda! Todo mundo ia pular e gritar horrores se o Jon tivesse cantado mas a essa hora ele devia estar, sei lá......... no banheiro. Aproveitei então pra olhar um pouco pra baixo, pro chão mesmo, porque meu pescoço a essa hora já doía horrores. É, porque eu fiquei com o olhar fixo no Jon o show todo, nem sei mais o que se passou no resto do palco, no telão, ao meu redor. Eu tava tão na ânsia de ver a pessoa o máximo de tempo possível, cada detalhe, cada piscadinha, cada sorriso, cada biquinho, cada reboladinha.......... que sei lá, forcei o pescoço demais. Tava doendo MUITO. Mas eu que não ia deixar esse detalhe me atrapalhar, depois eu teria o resto da vida pra botar o pescoço no lugar, usar coleira ortopédica e tals. Então eu cantei essa música com a cabeça baixa e o pescoço relaxado no ôôô da vida e pronto.


Jon, seu Lindo. LINDO. LINDOOOOOOO!!!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

We Got It Going On *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 8 de 1549

Então a próxima música era Born to be my baby e o pessoal já estava suando fazia tempo. Eu, pessoa que pertence à família do 'transpiramos horrores' me vi com os braços grudando nos cabelos das meninas da frente. Pensei nos caras atrás de mim e prendi meus cabelos, o que deve ter aliviado a nação por lá. Mas eu continuava a grudar nos cabelos das meninas e via o mesmo acontecendo com todo mundo que estava dos meus lados. Poxa que eu sei que você fez chapinha pra vir toda linda e lisa no show mas pô....... tá grudando, mano! Eu até tentei pedir desculpas para a menina da frente nas primeiras vezes que puxei os cabelos dela (e ela me respondeu que puxar podia, só não podia arrancar e eu pensei que ela é da minha turma... a das carecas), mas se eu fosse ficar me desculpando por toda vez que eu levantava os braços e os cabelos dela vinham junto eu não ia fazer mais nada na vida. Então eu tive a brilhante idéia de jogar os cabelos dos outros pra frente. Pô, o cabelo é seu, que adorne aí o seu próprio pescoço porque ta me atrapalhando. Elas entenderam e puxaram os cabelos, felizmente. É, não basta estar de botas de astronauta na grade? Que prendam esse cabelo pelo menos! Botei ordem na cabeleira da fileira da premium e fomos felizes depois disso.

Lost Highway tocava e nessa eu pensei que não é mesmo das minhas favoritas, mas que depois de ouvi-la assim ao vivo e com tanta gente ao meu redor sabendo cantá-la do começo ao fim, passará a ser. Superman Tonight fazia parte das músicas da turnê, do novo cd e eu não sabia cantar. Mas vendo Jon ali, com os braços abertos para o público e prestando atenção na letra.. devo dizer que agora ela está entre as minhas favoritas. O público masculino que me encoxava vibrou quando ela começou e eu fiquei pensando se eles sonhavam em ser superman de alguém. Pensei também que quando ele me perguntou qual era meu super herói preferido, eu não soube responder. Mas que agora já saberia e que depois desse dia já acho legal ter uma tatuagem com o S de Superman. Falta só escolher o lugar, porque no braço fica meio masculino. Na bunda, talvez.

In These Arms começou e mais ou menos por aí foi dando sede. Vendedor nenhum de nada conseguia ter o acesso a nós mas os seguranças do outro lado da grade começaram a passar copos de água de graça pro pessoal. E aí era legal porque quem tava na frente ia passando os copos de água pra trás e eu só sei que bebi uma meia dúzia de copos de água durante o show, assim, facinho e de graça. Água geladinha. Foi feliz.

Captain Crash & The Beauty Queen From Mars. O show corria solto e tava tudo muito bom e tudo muito bem. O fato de estar num lugar tão apertado que se eu levantava os braços não conseguia mais abaixar era só um detalhe e eu nunca pensei que algum dia passaria por essa situação e não me incomodaria. Tirar um dos pés do lugar pra tentar mudar um pouco de posição ou pender um pouco para o outro lado estava for a de cogitação. Mas tava bom, tava feliz. Às vezes o pessoal dava uma empurrada daqui e dali e alguém interrompia a cantoria pra xingar um pouco mais isso é normal. Às vezes também alguém empurrava o pessoal com o apelo de “tá passando mal aqui” e aí lá vinha o segurança pegar a criatura morrendo e puxar pela grade. Uma hora foi uma das meninas dos dois casais que estavam ao meu lado lá na fila. Ela tinha me contado antes que deixou um bebê de 4 meses em casa pra ir ao show. Pensei que era ruim você passar por tanto aperto, sol, fila o dia inteiro... e aí chegar no show, passar mal e ter que ir pra enfermaria e não ver mais nada. Chato. Daí passou um tempo e empurraram de novo, mais um “tá passando mal aqui”, mas dessa vez foi um empurrão que machucou. Aí a menina do meu lado: “desculpe, é que ela tá passando mal e é meio grande”. Daí pronto. A menina que tava morrendo devia dar mais ou menos umas três de mim (na altura e na largura), e olha que eu sou grandinha. E então eu não sabia se via o show ou se segurava o riso, porque quando o segurança viu que ia ter que carregar tudo aquilo por cima da grade meio que ficou em pânico. E o pessoal do lado de cá empurrando, levantando as pernas da garota, porque todo mundo queria mais é que ela fosse embora logo mesmo porque no lugar que ela ia deixar ia caber mais umas 3 pessoas.

When We Were Beautiful. E aí deve ter sido mais ou menos por aí que a menina baixinha do meu lado me cutucou e apontou pra uma de cabelo guaxinim na frente dela. A menina tinha os cabelos escuros em cima e descoloridos embaixo. Guaxinim, portando. E pixaim, porque aquele cabelo tinha era MUITA chapinha. A pequena atrás reclamava que a guaxinim passou na frente dela de um empurrão que todo mundo reclamou mas ninguém viu o ocorrido. Pedia ajuda pra empurrar a menina pra trás. Eu faria mesmo justiça com minhas próprias mãos se fosse em outro ambiente e em outra situação. Mas ali eu tava no meu show. No meu céu. E não era justo querer brigar bem nesse momento. Relaxei. Eu não ia MESMO arrumar encrenca e perder tempo do show da minha vida. A baixinha que lerdou então é problema dela. Eu deixei a guaxinim lá, que me fez comer cabelo às vezes porque ô cabelo de vassoura! Até que eu mandei ela prender e gritei absurdamente no ouvido dela durante as músicas pra me vingar um pouco e foi só.

E então veio Runaway. Primeira música do primeiro cd da banda. Entre as minhas favoritas, eu gritava a letra inteira nos ouvidos da menina com cabelo de guaxinim na minha frente. Deve ser praga dela o fato de eu estar com dor de garganta e tomando remédio até hoje. Mas não tem problema não. Eu pelo menos vou melhorar. E ela que tem cabelo sarará?


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Bed of Roses *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 7 de 1325

Daí que nem que eu tentasse explicar pra vocês o sentimento que tive naquela hora não conseguiria. Só de escrever e lembrar o momento eu já fico com os olhos cheios de lágrimas e já me dá falta de ar. Meu coração parou mas saiu pela boca ao mesmo tempo, enquanto eu ria, chorava, gritava, pulava e mordia a língua (tá doendo até hoje), tudo junto. E aí apareceu no telão um círculo branco num fundo escuro, o símbolo do novo cd. E em meio a toda a adrenalina excessiva que eu sentia, fui capaz de pensar no poço da Samara, de O Chamado. Não é possível que eu consiga fazer piada num momento tão importante. Mas eu não ri. E esqueci do pensamento logo, porque Jon entrou no palco e eu acho que nunca mais sentirei uma emoção tão grande na minha vida. Eu só não morri ali porque precisava ver aquele show, mas devo dizer que quem morre de emoção morre mesmo feliz.

Num fundo vermelho, meu sonho realizado. Blood on Blood, a que eu já sabia que abriria o show. E enquanto ele cantava sobre uma amizade como pacto de sangue, minha cabeça fervilhava. Ele existe. De verdade. E diferente de meus pensamentos pessimistas (eu fui preparada pra ver um cara velho e baixinho) devo dizer que Jon Bon Jovi, do alto de seus 48 anos...... é sensacional. Procurei, ali de pertinho, mas não achei. Nenhuma ruga. E não, ele também não é baixinho. É bem mais alto do que meus sonhos puderam permitir que eu imaginasse. E o azul dos olhos dele vão além de todo o azul de todos os olhos de todo o resto da população desse mundo. Porque é o tom de azul dos meus sonhos. Desde sempre.

8 horas na fila, mais 7 horas em pé esperando ele chegar. Engraçado que eu digo que morri quando aquele show começou e o pessoal deve pensar que meu mundo parou, meu cérebro parou e eu fiquei estática como num sonho. Não foi bem assim. Meu mundo parou sim, foram 3 horas que pra mim pareceram só 3 minutos, como um sonho perfeito (já diria o pessoal do filme Inception), mas o meu cérebro funcionou como nunca. E eu não fiquei estática não, porque como tudo o que eu disse naquele post... Bon Jovi pra mim significa a minha vida. Não no sentido do pessoal fanático que eu disse lá atrás e tal, mas no sentido de ser a trilha sonora da minha vida. Várias ocasiões, vários momentos que marcaram porque eu tava ouvindo Bon Jovi. Muita coisa importante se passou. E durante o show parecia mesmo que eu via o meu filme passando. Ele cantava, eu olhava aqueles olhos lindos e pensava na minha vida. Em quase tudo que aconteceu nesses 30 anos. Bons momentos, maus momentos. Todos com a trilha sonora de Bon Jovi. Foi um trailer de 3 horas do filme da minha vida.

Logo em seguida veio We Weren’t Born to Follow, primeiro single do último cd, que eu ganhei no meu aniversário de 30 anos, já disse. E eu pensei que foi por isso. Foi pra estar ali que eu completei a minha coleção de CDs. Foi pra estar ali que eu fiz um cd com todas as músicas de Bon Jovi pra ouvir no carro e cantar desesperadamente. Foi pra isso que eu ouvi Bon Jovi em casa incessantemente e cantei para os vizinhos como se não houvesse amanhã, pra decorar as letras das poucas músicas que eu ainda não sabia. Foi pra isso que eu enchi os pacovás do pessoal que me segue no twitter, fazendo contagem regressiva com trechos de música como criança. Foi pra isso que eu avisei o pessoal leitor do blog que ia surtar e postei contagem regressiva com fotos de Jon em épocas diferentes (pelado, inclusive) – como adolescente. Foi por isso que eu guardei dinheiro desde o ano passado e não fui nos shows do Aerosmith, Guns 'N Roses, Metallica e Evanescence (nesse eu ainda pude ouvir os sensacionais agudos de Amy Lee atravessarem o ar até a minha janela), minhas respectivas segunda, quarta, quinta e sexta bandas favoritas, esse ano. Foi porque havia rumores de que Bon Jovi viria ao Brasil. E onde há fumaça há fogo e, como já disse lá atrás, eu precisaria assistir o show do melhor lugar. Foi pra isso que eu saí desesperada e no meio do trabalho pra comprar o ingresso pessoalmente e tê-lo na mão o mais rápido possível. Foi pra isso que eu paguei os então absurdos 720 reais sem nem pensar duas vezes. Foi pra isso que eu planejei comprar até a camiseta com a qual iria naquele dia antes. Foi pra estar ali.

Daí começou You Give Love a Bad Name, quase um hino da banda. E eu pensei que foi uma das primeiras músicas que ouvi e aprendi a cantar, grudada no encarte do cd. Aquele primeiro de coletâneas que tive na vida.

Jon dizia algumas frases nos intervalos das músicas e eu entendia e pensava que foi pra isso que eu fiz inglês. E as que não entendia me faziam pensar que eu devia ter escolhido inglês americano e não britânico pra aprender. Enfim, pensei que precisava voltar pro inglês. Felizmente o pessoal da imprensa tem bons conhecimentos de inglês, ouve bem e não tinha muitos gritos nos ouvidos. No dia seguinte estava na internet: “Em São Paulo a apresentação foi assistida por mais de 60 mil pessoas que puderam testemunhar Jon Bon Jovi ficar com os olhos marejados de emoção diante da multidão calorosa que o esperava para a primeira canção. “Fazia muito, muito tempo que não vínhamos a São Paulo. Olha só o que perdemos”".


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Who says you can't go home? *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 6 de 931

Lembrei. Fato foi que eu fiquei discutindo com o pessoal sobre o posicionamento do Jon no palco. Eu podia jurar que ele ficaria exatamente na nossa frente, onde já tinha um microfone posicionado e várias caixas de som. E teria apostado com a mulherada ao meu redor se eu fosse uma pessoa que gostasse de correr riscos. Teria perdido. As fanáticas loucamente e entendidas de shows e de Bon Jovi tinham razão. Exatamente na nossa frente ficou Richie Sambora, o melhor guitarrista depois de Slash e Joe Perry na minha opinião. “Eu quero um moreno na minha frente, não um loiro!” Gritava uma lá. E foi mesmo. Richie não era dos meus favoritos, até se mostrar extremamente simpático durante todo o show. Que pessoa agradável. Richie tinha um belo fã clube, todo ali ao meu redor, posicionadas exatamente na direção dele de propósito, e sorria e interagia conosco durante todo o show. Tocava suas muitas les pauls pra nós. Jon ficaria ali do ladinho, com seu pedestal branco como as fanáticas bem disseram. Bem perto também mas não exatamente a uma distância satisfatória de acordo com o meu gosto. Eu queria sentar no colo dele se pudesse.

Depois o meu pensamento já mudou para ‘tomara que eu consiga comprar uma camiseta oficial na saída’. É, porque na entrada eu precisava correr desesperadamente, e nem vi onde estava a barraca. Mas a menina do backstage mostrava a que ela tinha comprado, porque eles entraram antes da gente com tempo suficiente pra ela ir lá e comprar uma camiseta ainda, sabe? Me contou onde ficava a barraca, falou quanto era e eu pensei que tomara que desse. Senão também eu compraria depois no site oficial, como fez a Luana. De acordo com o que ela tinha dito não era mais caro tanto assim. Enfim, eu faria o que tivesse que ser feito. Se desse muito bem, senão é porque não era pra ser. Fiquei tranqüila.

Aconteceu também, nesse intervalo de tempo, a distribuição de cartazes feitos em folhas de sulfite (enquanto a menina do meu lado reclamava que era um absurdo ela ter passado o dia anterior inteirinho cortando um coração no EVA amarelo e a segurança mandou ela jogar fora porque “poxa, era EVA, espuminha, levinho, não ia matar ninguém se eu jogasse, e esse pessoal entrou com esse bando de folhas de sulfite???”). Eu já tinha visto no Orkut que a galera tinha combinado de levantar cartazes para o Tico Torres, baterista. Na virada da noite seria aniversário dele e o pessoal combinou de levar um cartaz escrito Happy Birthday. Eu não quis levar nada porque a minha cota de coisas pra levar já estava grande, mas teve alguém lá do fã clube que imprimiu vários cartazes e distribuiu na galera. Peguei um. O combinado era levantar na hora da primeira pausa do show, o suposto fim antes dos bis. Eu não gosto muito de participar das modinhas e combinações, mas sabia que estaria tão empolgada que ia querer participar de tudo. De dancinhas com os braços a coros de músicas e bis. Aliás a galera já chamava a banda, com gritos de ‘Bon Jovi’ a trechos de música. Atrás de mim uma meia dúzia de caras (homem era uma coisa rara nesse público, mas atrás de mim tinha vários – o que foi bom porque eu prefiro mil vezes grito de homem do que de mulher no meu ouvido – que me encoxariam (literalmente) durante o show, mas eu não tava nem aí. Encoxa aí meu filho que eu tou curtindo a minha banda favorita. Aproveita que é só nesse caso que eu sou passiva nessa vida.) brincavam de puxar os coros e eu ria de um deles, que sempre que puxava era só ele que gritava, ninguém ia atrás. Até que, emburrado, falou que também não ia gritar mais porcaria nenhuma. Eu me lembrei que também nunca fui boa de liderar coisas do tipo, primeiro porque sou tímida e odeio chamar a atenção em algum lugar, e segundo porque é mesmo um mico total você gritar e ficar no vácuo, além de que essa coisa de ‘também não brinco mais’ é super a minha cara. Eu ri.

E enquanto estávamos lá controlando nossa grande ansiedade, conversávamos assuntos que para nós eram naquele momento tão importantes quanto uma reunião da ONU, analisando o público em geral, o tanto que o estádio enchia, os fãs e os covers ridículos (eu já falei que pra mim Jon Bon Jovi só tem um, não vem fazer cover na minha frente que eu vou rir da sua cara e mandar pastar), alguns com tatuagens iguais às dele e tudo.. o cara que ficava lááá na pendurado no alto da estrutura do palco nos mandou gritar e pular e eu fiquei pensando que o resto do estádio não devia entender nada. Babybrother confirmou essa informação. Todo mundo pensava que gritávamos porque tinham ligado uma luz aqui e outra ali, mas não. Nós gritávamos porque o cara da iluminação pediu. Era pra começar o show. Aliás, eu queria dizer uma coisa importante: é completamente diferente você ir num show em estádio e ficar na pista premium ou na pista, ou nas cadeiras, ou na arquibancada. E a diferença GRITANTE é que quem fica na pista premium PARTICIPA do show, e quem fica nos outros lugares ASSISTE o show. Desde o início, antes de começar, o pessoal que entra e sai do palco, os câmeras, os roadies, os produtores, pessoal da iluminação, do equipamento... todos interagem com o público da pista premium. Todos conversam, tiram fotos, filmam, pedem pra gritar. E durante o show, Bon Jovi cantou pra nós. Olhou pra nós, apontou pra nós, mandou beijinho pra nós, brincou conosco. Nós participamos de cada coisinha que acontece no palco e eu devo dizer que ter essa experiência no show da minha banda favorita é sensacional. Assistir também é bom, mas participar.. não tem preço. A emoção era tanta que quando dei por mim alguém já dizia ‘ligaram a fumaça!’ ‘o câmera já está posicionado!’ ‘vai começar!’.

De repente a luz apagou.

domingo, 17 de outubro de 2010

Keep the faith *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 5 de 829

De repente o Fresno entrou. Atrasados 15 minutos, fazia um tempo já que estávamos gritando o nome da banda deles. Não porque queríamos ver o show nem nada, mas porque eles não prestam pra nada mesmo e não podem se dar ao luxo de entrarem atrasados e atrasar o nosso show. Que entrassem logo para sair logo, já que não tinha jeito. Não são estrelas. São Fresno. E só. E então o baterista com a cara simpática sentou na bateriazinha de brinquedo deles (que era exatamente um quarto do tamanho da bateria do Tico Torres, do Bon Jovi) e começou. E então agora eu vou dizer o lado bom da pista premium. Passamos o dia conversando e a visão de todo mundo que falou comigo era a mesma. Fresno estava sendo ameaçado há mais de mês por todos os fãs de Bon Jovi porque foi escolhido pra abrir o show e o público fã não é o mesmo. Bon Jovi tem fãs de 30 a 40 anos ou adolescentes com muito bom gosto musical influenciado pelos pais e que, portanto, não curtem Fresno, cujo público alvo é exatamente os adolescentes. E apesar de muitos protestos na internet, dizem que quem escolheu a banda pra abrir os shows no Brasil foi justamente o Bon Jovi. Por ter tido poucas escolhas (a gente acha que mostraram pra eles o Fresno e o Restart só), por ter dois caras que fizeram cover de Bon Jovi ou porque bandas maiores e com o mesmo público alvo como Capital Inicial ou Titãs se achariam estrelas demais e não iam querer abrir um show ou não ia combinar porque o ritmo não é exatamente o mesmo, o fato é que parece que quem escolheu eles pra tocar foi a nossa banda. E aí nós decidimos lá na fila que não era legal vaiar nem mostrar o dedo, nem ficar de costas nem jogar nada neles. Porque pô, a gente foi ver o Bon Jovi, não a banda de abertura, e pouco importa quem ia cantar lá antes deles. Não precisava curtir nem nada, mas também não seria necessário sermos mal educados. Afinal Bon Jovi é uma banda que não vem ao Brasil há 15 longos anos. Maltrataríamos nossos próprios conterrâneos e daríamos nós motivos para os integrantes do Bon Jovi saírem mesmo pensando que somos todos um bando de macacos de país subdesenvolvido? Não.

A pista premium aplaudiu a entrada do Fresno pra calar a boca deles do recado de ‘fodam-se vocês’ que haviam mandado para os fãs de Bon Jovi. Mas o vocalista entrou sem dizer nada, vomitou cinco músicas mais pesadas (que eu aposto que gravaram só pra abrir esse show) que não acabavam mais e fez o show todo de olhos fechados. Nós batíamos palmas ao fim de cada música mesmo sem termos gostado, mas a nossa educação foi exemplar. O baixista olhava para nós e sorria agradecido, mas o sr. Lucas Fresno-um-dia-vou-ser-fodão-como-bon-jovi continuava de olhos fechados e sem dizer nada. Era o medo escrito na testa. Fez o show como se fosse obrigado. Nós olhávamos pra trás e víamos o Morumbi em silêncio. Quietos. Mudos. Parados, estátuas. Só depois no dia seguinte que eu fui saber: todo mundo mostrou o dedo médio para os caras. E a gente nem viu. Babybrother disse que a arquibancada vaiou. E a gente nem ouviu. Estávamos somente aplaudindo para sermos cordiais e acreditamos que estava tudo bem. O estádio ainda nem estava cheio. Muita gente chegou só depois que o Fresno saiu do palco. Atrás de mim, Nicole, do alto de seus 15 anos, cantava com fervor as músicas deles. Só ela na multidão. Quando o sr.-metido-Fresno anunciou que era a última música (tipo pelamordedeus, eu sei que não tou agradando, essa é a última e prometo que não vai demorar), nós aplaudimos mais ainda. Finalmente. O baixista e o baterista se despediram de nós com olhar de agradecimento. O guitarrista................ tem guitarrista naquela banda?? O Lucas-comi-merda saiu com a frase ‘obrigado pelo respeito” e assim acabou a nossa tortura.

E então o tempo parou naquele momento porque eu não sei o que foi que ficamos fazendo ou falando. Só me lembro de ter reparado que toda a equipe era loira, os caras da iluminação e do som e tal. O irmão do Jon, que organizava tudo no palco e que as meninas morreram de mandar beijinhos. O câmera oficial. A mulherada tava delirando. Como já era de se esperar, as máquinas fotográficas do pessoal da pista premium eram excepcionais. Era proibido entrar no show com máquinas profissionais mas eu aposto que o pessoal da segurança nem sabe o que é isso. Eu via fotos perfeitas e até mais nítidas que a realidade se duvidar. E já tendo planejado comigo mesma que eu não ficaria refém de fotos e filmes porque queria curtir totalmente meu show (e quem tira fotos e filma não aproveita!), já coloquei a minha atual cara de pau em ação e pedi o nome da menina que estava do meu lado, que tinha uma máquina com uns 320 megapixels, pra procurar no Orkut depois e copiar as fotos dela. Fiz bem. A menina tem 500 fotos, de uma máquina sensacional. E valeu a pena tentar lembrar do nome dela durante um dia inteiro, porque com a minha memória de galinha eu precisaria superar minhas próprias expectativas.


sábado, 16 de outubro de 2010

Work for the working man *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 4 de 738

O tempo da ameaça de abertura dos portões até a real abertura leva sempre uma eternidade. Milhares de seguranças lá dentro nos olhando, subindo e descendo as escadas e nos deixando nervosos para a expectativa do ‘agora vai’. E depois de muitos gritos e comemorações precoces... às 16:10h o portão abriu. Como já era de se esperar, de uma fila formada no além, entraram primeiro os tremendos furões do backstage. Tinham um espaço reservado para eles, eu fui saber depois. Que não era tão bom assim, graças a Deus. Mas tinham o acesso livre para onde quisessem ir e isso fez com que ocupassem toda a primeira fila da grade. Felizmente nossa fila começou a entrar sob protestos de que alguns homens passaram na frente, pois as mulheres empacavam na fila da revista. Um dia eu ainda vou entender qual é a da mulherada que leva bolsas no show. Enfim chegou a minha vez e a segurança lá passando a mão na minha bunda enquanto meu coração pulava desesperadamente pela boca. Fitinha de pista premium no braço, a moça que foi escalada pra fazer isso deve ser da família das lesmas, porque não terminava nunca de me enfiar a fita e eu tava desesperada, precisava ir logo. No fim puxei o braço e a fita da mão dela e saí com o negócio colado pela metade. Metade na fita, metade no braço. E sob a orientação de ‘não corram!’ cá-que-cuma? Tou na São Silvestre do meu sonho, minha filha! E dá licença que se não sair da minha frente eu passo por cima! Olhei pra segurança que pedia pra não correr e falei “aham” concluindo mentalmente “senta lá Cláudia” e corri como se não houvesse amanhã.

Com todas as informações precisas das bonjovianas que conversei na fila, eu já sabia que o lugar melhor para ficar seria do lado direito do palco. Entre Jon e Richie Sambora, o guitarrista. E tivemos êxito na escolha do bom lugar. Não era grudado na grade porque havia uma pessoa do backstage na frente de cada uma de nós, mas já tinham me dito que grudar na grade não nos deixa ver o show e os efeitos nos telões como um todo e tudo isso ficou pequeno quando vimos o quão perto do palco estávamos. Na frente do pessoal que passou uma semana na fila, inclusive. Aquilo era um sonho. Comprei um copo de água, porque me lembro de pessoas falando que no show do Aerosmith tinha gente morrendo de sede e desmaiando porque depois que a pista enche os vendedores não conseguem mais chegar perto das pessoas. Eu, prevenida, comprei minha água e guardei para beber momentos antes de começar o show. A galera do meu lado seguiu o exemplo. Sentamos no chão, porque babybrother me avisou que era o melhor a fazer ‘pra não chegar na hora do show e você estar cansada, porque se ficar vai perder seu lugar’. Dito e feito. Um dos casais que estava conosco desde lá na fila ficou cansado e depois de todo esse sofrimento eles resolveram ficar no fundo da pista, ou ir ao banheiro, ou comprar alguma coisa ou sei lá o que foi que aconteceu que eles saíram e perderam seus lugares na grade.

Esperamos “ansiosamente” o Fresno chegar. O horário previsto para que eles entrassem no palco era 19h e eu devo dizer que as três horas que se passaram desde que eu entrei pelo portão até a chegada do Fresno também passaram rápido. Passou um tempo e ficar sentadas já era insustentável. Sabíamos que a pista premium lotaria, e por mais que eu quisesse continuar sentada as pessoas já tentavam passar por cima de mim, na ânsia de ficar mais na frente. Faz parte. O objetivo de qualquer um nesse lugar num show é alcançar a tão esperada grade, nosso Santo Graal. Levantei porque não dava mais e por ansiedade também, mas ainda ficou a menina do backstage lá sentada no chão. E então a Gabriela, de trás de mim, me cutucou e pediu pra ficar na minha frente. Tá que ela estava na minha frente lá na fila. Tá que ela tem só 15 anos. Tá que ela tava com a mãe que não pôde entrar porque não deu o dinheiro do ingresso pras duas. Tá que ela é mesmo mais baixa que eu. Mas pô. É O MEU show, caramba! Eu querendo chegar na grade e a mina querendo ficar na minha frente? Porra! Ganhei tempo dizendo pra ela esperar a menina do backstage levantar que deixaria ficar na minha frente. Mas não, o mundo é dos espertos, eu corri mais e merecia meu lugar. Era o meu sonho. Só estava ganhando tempo. Da vez seguinte que ela me cutucou pra ficar na minha frente eu tinha a resposta na ponta da língua: "olha, não vai adiantar nada, porque essa moça na minha frente é maior que eu e você não vai enxergar nada mesmo assim". Era verdade. O fato é que a moça era mesmo maior que eu, mas ela não estava no meu ângulo de visão. E a Gabriela não precisava saber disso. Concordou com o que eu falei e ficou lá, quietinha, atrás de mim. Como tinha que ser. Aliás eu queria abrir parênteses aqui. Eu sempre achei ri-dí-cu-lo aquelas botas com salto astronauta, sabe? Aliás, eu não uso plataforma nenhuma, nem aqueles chinelos horrorosos com salto plataforma azul-piscina-de-pobre de espuma, nem aquelas sandálias terríveis com salto plataforma de madeira, nem as botas de astronauta. Coisa feia do caramba. Nasceu anã? Sei lá, se vira, usa um salto fino, uma anabela! Sei que o pessoal do Esquadrão da Moda sempre diz que é o fim da picada esse tipo de salto mas eu nem precisava assistir esse programa pra saber disso. Mas devo reconhecer que tem uma vantagem: ir a show. É, porque o pessoal do backstage estava na grade E com bota de astronauta. Tipo assim, só eles queriam enxergar, né? Pra mim não fez diferença porque eu sou alta e estava num ângulo bom, mas o pessoal baixinho realmente sofreu. E eu fiquei até pensando em comprar um negócio horrível desses para a próxima vez que for num show. É útil!

Agora estava eu conversando com pessoas diferentes, já que o grupinho da fila tinha se dispersado um pouco, todo mundo enfileirado. E aí eu vou dizer pra vocês qual é o problema em ficar na pista premium: as pessoas conversam sobre os shows que foram, sabe? Não, porque eu vim na premium no show do Metallica e foi assim e assado. E no show do Aerosmith a pista premium tava blábláblá. E aí no show do Guns o esquema foi tal. E o pior: “não, porque eu fui no show do Bon Jovi na Argentina, daí vim aqui hoje e amanhã tou indo pro Rio pra ver o show de sexta”. Caramba que eu paguei suado 720 reais uma vez pra ver um show só, como essa galera paga 600 dólares cada show, pra ver três shows em uma semana e mais todos os outros de todas as bandas supimpas da face da Terra? É INJUSTO ISSO!!! Pô, esse pessoal precisava fazer um revezamento. Já viu uma vez? Agora senta lá que sou eu, que nunca vi, primeira vez no show da minha banda preferida, primeira vez na pista premium que eu nem sabia o que era isso! Daí tinha uma baiana de Salvador do meu lado contando que foi no show de Nova Iorque no mês passado e sabia que o pedestal do Jon era branco, porque ela foi lá e subiu no palco, pegou nas coisas e tal. Criatura do backstage, então. Ai que injusto. Ai que mundo cruel, ó céus, ó vida, ó azar. Por que eu não nasci filha do Silvio Santos? HEIN? Por que não ganho na mega-sena? Inferno, viu.

Não, injusto. Graças ao pai que eu tenho, tenho um trabalho que me permitiu faltar naquele dia e poder passar o dia todo na fila, como eu queria. Além de já ter podido sair durante o expediente pra comprar o ingresso antes que acabasse, quase dois meses antes. Graças ao meu pai eu tenho um trabalho que me permitiu gastar 720 reais num show. Coisa impossível pra muitas pessoas. E graças ao meu pai eu pude comprar o ingresso na pré-venda, que foi com o cartão dele, porque eu não tenho esse tal cartão Citibank. Então foi força de expressão o negócio todo do Silvio Santos. Perdoem.

Continuando, estava lá eu vendo as meninas tirando fotos de um cara no palco que – me disseram elas – era irmão do Jon. Matthew Bongiovi (senta lá, Matt!). Não achei bonito não, mas o olhar e a cor dos olhos eram realmente igualzinhos. Tive a idéia de ligar pro babybrother e saber se ele já tinha chegado. Eu, feliz da vida, devo ter gritado na orelha do coitado. Levantei meu moletom cor de rosa e, de lá do último degrau da arquibancada ele me viu aqui na grade "aquela lá levantando a blusa cor de rosa", falou pra alguém. Felizmente perto dele tinha uma mulher de rosa fluorescente, que serviu de ponto de referência pra que eu visse onde ele estava sentado. Eu, aqui no ponto mais perto do palco possível. Ele, no ponto mais longe possível. E nos encontramos mesmo assim. Tirei foto de onde ele estava sentado mas a emoção foi tanta que nem pensei em pedir pra ele tirar uma foto minha levantando a blusa, pra provar pra mim mesma depois que eu estava tão perto.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

I'll be there for you *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 3 de 682

Sobre eu pertencer a esse grupo de ‘família Bon Jovi’ ou não: então. Uma coisa que me irrita é gente fanática. Porque pra mim é diferente ser fã e ser fanática. Eu acho o cara bonito, gosto das músicas da banda, canto no carro, tinha fotos coladas dentro da porta do guardarroupa, levei uma música deles pra aprendermos na aula de inglês e blábláblá que vocês já leram naquele outro post. Mas tem gente que extrapola, sabe? Chegou uma lá dizendo que o nome dela nem era Elena mais. Que há dez anos todo mundo chamava ela de Lena Bon Jovi. Han. Vergonha alheia. Porque talvez eu até entenda a Nicole, que gritava que o irmão do Bon Jovi era cunhado dela (?? sanidade puf) e sei lá... quando a pessoa tem 15 anos talvez eu ache mais normal ouvir certos absurdos da boca das pessoas, mas aos 40? Minha filha, em qual mundo você vive? “Não, porque eu sei cantar todas as músicas, mas do meu jeito”. Então eu me lembrei de um BBB que teve aí e que a sensação foi uma fulana lá que cantava ‘iarnuô’ sonhando ser We Are The World. Lembrou? Então. Nesse sentido eu me sinto peixe fora da água, sabe? É muita falta do que fazer, meu povo. “Ah, que o Jon tá magro né?” Hein? Cê viu ele ontem, foi lá jantar na sua casa? Tá íntima? “Porque o Jon deve ser o tipo de cara que safado já chega pegando”. Gente, que me interessa o que o cara faz ou deixa de fazer? Eu penso que se pra mim é surreal ver pessoalmente alguém que eu goste tanto e que nem sabe da minha existência, é surreal exatamente porque eu não vejo como uma pessoa normal. Achei total broxante ver umas fotos aê do cara usando bermuda de algodão cáqui na praia. Isso é coisa que meu pai usa! E fica perto demais da realidade pra mim. Sonho pra mim é sonho. Irreal, inatingível. Bon Jovi só é Bon Jovi porque canta lindamente e na minha concepção de pessoa perfeita, não existe. Mentira que ele arrota, enfia o dedo no nariz e coça o saco. Men-ti-ra. E então eu acho que esse pessoal meio que pira. Vê lá o Orkut da galera que tem só comunidades relacionadas a Bon Jovi. Tem uma lá que tava sabendo que tem uma rádio na internet que só toca Bon Jovi. E sabem cada passo do cara, sabem os aniversários de todo o pessoal da banda, sabem onde estão fazendo show. Não sei, sabe? A minha concepção de fã é diferente. Eu gosto, tenho todos os CDs, sei que o Jon faz aniversário em março. E só. Não me interessa seguir tanto os caras. Eu leio uma notícia ou outra no facebook ou no twitter, mesmo assim não sempre porque é tudo em inglês e dá preguiça. Fiquei meio fora da órbita agora porque ia ter o show (vocês só ficaram sabendo há pouco tempo que era a minha banda favorita e que eu era tão fã, falem a verdade!) e escuto bastante as músicas, mas tem hora que enche o saco e eu tasco lá a Lady Gaga ou Shakira pra dar uma quebrada no clima. E pronto. Não gosto de gente que inclui delirantemente alguém assim em seu cotidiano. Que trata como íntimo. Que faz tatuagens horrorosas com o nome de um cantor que se visse isso ia só dizer ‘que bosta hein?’ Na boa, pra mim beira à loucura. Minha turma é a dos fãs contidos – e sãos.

Mas aí eu cheguei lá e fiquei sabendo que tem um bagulho que chama backstage. Eu já tinha visto no site quando me cadastrei esses dias, porque tava rolando uma conversa lá no Orkut que me interessou. Enfim, conversando com um pessoal eu entendi. A venda de ingressos para o show em SP começou. Bonito. Mas o certo era começar primeiro no backstage. Para os leigos, fã clube oficial. Eu explico: lá no site da banda tem um esquema todo de você se associar ao fã clube e eu já fui lá e me cadastrei. Dá direitos a ver umas coisas não abertas ao público e tal. Mas tem uma parte social, de instituição de caridade mesmo, que se você vai lá, se associa ao backstage e paga uma mensalidade, tem acesso a mais um montão de outras coisas, informações específicas e venda antecipada de ingresso para shows. Tá que eu tou vendendo o almoço pra comprar a janta, imagina. Eu li lá mas fiquei quieta na minha. No fim das contas, na fila eu fiquei sabendo: daí que depois abriu a venda de ingressos no backstage, quem era associado e tinha comprado pista premium vendeu pra comprar a de lá. E se o preço da pista premium aberta ao público era 600 reais, a do backstage era 600 dólares. Me explicaram que um ingresso do backstage nos shows do mundo por aí a fora dá acesso a várias coisas bacanas, camarins, brindes, equipamentos, cadeiras no palco e blábláblá. Mas Brasil é Brasil e aqui dava só acesso livre a todos os lugares do estádio. E a entrar na frente do pessoal da pista premium. Oi, que essa foi a parte que eu choquei. Como assim, que eu tinha ido desesperadamente no primeiro dia da venda do ingresso, cheguei lá na Saraiva antes de abrir e já não tinha mais ingresso meia entrada da pista premium porque tinha acabado durante a madrugada, comprei inteira mesmo e mais a taxa de conveniência de 120 reais porque pra não pagar isso eu precisava ir no Credicard Hall que só abria meio dia e ninguém me garantia que o ingresso que eu queria não teria acabado até lá. Jurei pra mim mesma, nesses 30 anos de vida que eu compraria o ingresso mais caro e mais perto possível quando tivesse esse show, porque seria único e eu ia pagar o quanto fosse pra aproveitar totalmente. Daí não fico sabendo da mamata da galera que pagou 2 vezes mais e entraria antes de mim pra ficar na minha frente? COMO ASSIM, JOSÉ? Meus pensamentos sobre isso ocuparam bastante meu dia (mais precisamente, fiquei torcendo pra todo esse pessoal se foder e pronto), junto com mais o porém de outra galera que recebeu um e-mail da produção do Bon Jovi dizendo que se eles distribuíssem lá uns panfletos tais receberiam mais algumas regalias e mais a visão da fila de idosos e deficientes, que eu reparei no caminho para o banheiro sem porta. Nenhum idoso e somente dois deficientes numa fila enorme. E eu reparando pra ver se o pessoal era cego, manco ou retardado, porque obviamente que era fila preferencial e eles TAMBÉM entrariam na minha frente.

Estress à parte, me ocupei em comprar os souvenires que tinha planejado. Fitas de ‘eu fui’ pra botar na testa. Porque a camiseta eu já tinha comprado antes na Galeria do Rock e agora só ia querer a oficial. E porque os chaveiros eram feios, as bandanas mais ainda e os alfajores que uma menina vendia com as iniciais BJ e argumentos de “você vai poder dar uma mordida nele!” não me convenciam. Mas me ocupei em observar a criatividade do brasileiro. De gente que vendia chapéus de cowboy a sombreiros, capas de chuva com o argumento “vai chover e vai custar o triplo” e guardachuvas que passaram a ser guardassóis conforme o calor ficava mais escaldante, a pessoas que chegavam com seu próprio estilo Bon Jovi, desde os ultrapassados cabelos de poodle, calças colantes e botas de cowboy ao estilo mais sereno e discreto atual. Gente de tudo quanto é idade, de adolescentes ao pessoal mais velho. Muitas camisetas amarelas ao estilo Slippery When Wet, álbum antigo que mostrava garotas com a camisa molhada e muita gente de camisetas do Superman, que ilustra não só a tatuagem no braço esquerdo do Jon, mas também é o nome de uma música do último cd (amei muito a minha camiseta do Superman depois disso. Eu tinha comprado tão sem intenção, nem liguei o fato à pessoa!).

A cavalaria foi chegando, o dia foi passando, o sol foi escaldando, babybrother ligou pra avisar onde estacionaria o carro e combinamos onde nos encontraríamos no fim do show, e lá pelas 13h veio a orientação para que apertássemos a fila, porque estavam todos dando a volta no estádio e não cabia mais gente. O que pra nós foi a glória: achamos uma árvore pra ficar embaixo, e foi isso que me salvou da cara cor de pimentão no final do dia. Tava só cor de rosa, menos mal. Daí até as 16h foi um pulo. Voou. Nós, ansiosos, não sabíamos se sentávamos ou se levantávamos, se comíamos ou se falávamos. Trocamos e-mails, nos arrumamos, jogamos fora o que sobrou de nossos lanches e nos preparamos na fila para entrar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Wanted dead or alive *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 2 de 564

Assim que cheguei (antes das 6 horas da manhã) me enturmei com as pessoas. As da frente e as de trás, fizemos todos uma grande família que compartilhou vários momentos do dia juntos. Luana, Mônica, Gabriela e sua mãe, Milena, Nicole e sua amiga. E mais os dois casais atrás de mim. Gabriela, uma mocinha de apenas 15 anos falava de Fresno franzindo o nariz e explicava que gostava de Bon Jovi por causa de sua mãe, que sempre gostou. E que apesar da mãe estar ali na fila o dia todo com ela e a amiga e ser muito fã, não iria ao show. O dinheiro não deu pra comprar ingresso para as duas. Nicole e sua amiga, também de 15 anos, também foram acompanhadas pelos pais que as olhavam do outro lado da rua, sentados em bancos dobráveis e à sombra de uma árvore. Rá que meus pais nunca que fariam uma coisa dessas. Luana levou comida a mais pra repartir com quem estivesse perto e Mônica emprestou o guardachuva pra ela e pra mim quando viu que estávamos as duas ficando de branco palmito a vermelho pimentão por causa do alalaô que o sol estava quente e queimou a nossa cara. Os dois casais atrás de mim fiscalizavam com rigor quem entrava e saía da fila e entre os muitos pontos satisfatórios do dia, o excepcional: organização. Mulher é fogo mesmo e em uma fila onde somos a maioria ninguém dá ponto sem nó. Decidiu-se ali mesmo que essa coisa de chegar cedo e guardar lugar pra cinqüenta neguinhos que chegam só na hora do show não ia rolar. E a partir daí passamos a barrar os desinformados furadores de fila da casa da mãe Joana toda. Para identificar as saídas inevitáveis de ‘vou no banheiro e já venho’ (nunca tive que anunciar pra tanta gente que eu tava indo no banheiro) passamos a apelidar as pessoas. A Luciana Melo. O Slash depois da aids, o indivíduo andrógeno não identificado. A turma do Superman. A japa emo com cabelo de capacete que foi ver o Fresno e chorou quando a gente não deixou ela furar a fila. A menina do olho azul. A gangue da camiseta amarela. E a barraca 2, cuja lenda era a de que estava lá desde a quinta feira anterior, 6 dias portanto, com 15 pessoas que precisavam se revezar pra tomar banho. Eu nem perguntei quantas pessoas estavam na barraca 1 e há quantos dias estavam lá pra evitar a fadiga. E porque eles eram chatos mesmo. Enfim, apoiados pelos muitos orientadores oficiais posicionados ao redor de todo o estádio, nós mandamos e desmandamos na fila. Quem entrava, quem saía, a hora que entrava e a hora que saía e onde ia. Eu, claro, no meio da galera. Porque nasci para liderar, me disseram uma vez. Eu chamo isso de ‘me diverti horrores enquanto não tinha nada pra fazer’.

Fato foi que eu comprei uma revista e uma palavra cruzada no dia anterior, pensando em me ocupar durante o dia. E foram duas coisas que eu nem tirei da mochila e que do jeito que estavam foram para o lixo. Eu tentei sim, tirar um pouco pra ler, afinal tava tudo novinho, maior dó de jogar fora. Não é permitido entrar com revistas no show, eu já sabia disso. Sei lá, deve matar se você jogar. E aham que ô que eu ia no melhor show da minha vida ler revista! Só esperava ter lido antes de jogar tudo fora. Enfim. O que eram 10 reais né? A ansiedade era muita e eu não conseguia me concentrar em nada que não fosse olhar e falar sobre tudo o que acontecia ao meu redor. “Falar mal das pessoas faz o tempo passar mais rápido” me disse a Luana. Concordei. Agitada, presenciei feliz cada figurino bizarro, cada entrevista para a tv, cada briga, cada vendedor de qualquer bugiganga possível, cada ambulante correndo da fiscalização, cada choro de gente que chegava depois sem poder furar a fila. E o resto do mundo indo trabalhar, passando engravatados em seus carros nem tão apressados assim – porque tinha muita gente, teve trânsito - em frente ao estádio e xingando que a gente era peão. Aham. Pagando 720 reais num ingresso e podendo faltar no trabalho bem no meio da semana. Quem é peão aqui?? Analisei a cada minuto o quanto a fila crescia e crescia e o quanto eu estava perto da entrada. E participei das mais variadas discussões sobre tudo o que pode surgir em uma fila de show. Sobre o tempo, ‘Patrícia Poeta falou que não vai chover!’ (e não choveu mesmo!), sobre as combinações de irmos ao banheiro, sobre as músicas preferidas, sobre “você já pegou metrô na Sé 18h? Então está preparada pra ficar na grade em um show”, sobre de onde éramos e o motivo por estarmos sozinhas, sobre os shows passados, sobre o calor, sobre ninguém estar com a camiseta do Fresno, sobre nossa atitude durante o show deles, sobre as conversas nas comunidades do Orkut.

“Família Bon Jovi”, li esses dias em uma reportagem. Particularmente eu acho que essa nova expressão de ‘família’ é meio emo-atual-brega, sabe? Combina muito mais com Fresno que comigo. Mas ponderando sobre o meu dia tão cheio de situações novas, tudo o que eu tenho a dizer é que sim. Nós fomos mesmo uma família. Preocupados uns com os outros, fizemos um belo revezamento de banheiro. Eu me lembrava de ter banheiros químicos espalhados no entorno do estádio nos outros shows que fui, mas não foi o caso dessa vez. E também não tem nenhum estabelecimento comercial perto e os postos de gasolina fecham o acesso a seus banheiros em dia de show. Felizmente, os moradores abrem os banheiros e estacionamentos de suas casas. Também, cobrando 2 reais cada ida ao banheiro e 150 reais pra deixar o carro durante o show, eu também faria o mesmo se morasse por lá. Enfim, fui num banheiro bem bacana da primeira vez e quase esqueci de tirar o ingresso que estava na calcinha. Sorte que eu tinha colocado dentro de um saco plástico, para o caso de chover, e então fez barulho quando tirei a calça. Deu tudo certo, voltamos e dimensionamos nossa ingestão de líquido. Conforme o dia passava, ficava ainda mais difícil podermos sair e voltar de nossos lugares na fila. O portão abriria 4 horas da tarde para entrarmos, então programamos nossa próxima ida ao banheiro por volta das 2 horas. Sabíamos que depois que entrássemos no estádio teríamos que aguentar até o fim do show para ir ao banheiro de novo. Ninguém quer perder o valioso espaço de seus dois pés na muvuca do aperto de uma pista premium na grade de um show. Outro banheiro dessa vez, mas chegou lá e a bagaça não tinha porta. Então me lembrei de experiências anteriores de vida cujas quais me deram uma grande certeza: eu simplesmente não consigo usar um banheiro sem porta. Não consigo. É mais forte que eu, sabe? Não dá. Eu até tento, mas não vai. E então eu saí daquele banheiro do mesmo jeito que entrei. Teria que me contentar em ter ido ao banheiro só uma vez naquele dia. Em contrapartida, fiquei pensando na vida dura dos meus 30 anos. Sempre fui uma pessoa forte, mas ultimamente até na acupuntura tou desmaiando. Não sei, deve ser a idade, velhice, rugas... e aí o organismo resolve que agora eu vou ser maria mole assim e sair desmaiando por aí. Mas eu não ia me perdoar NUNCA se passasse mal naquele dia. Renata, minha nega, nesse sol escaldante, é preciso beber líquido mas não é possível ir ao banheiro. Não tá podendo comer glúten porque se apoderou de uma doença de véio mas também não pode deixar de comer senão na multidão vai ficar calor e aí vai baixar a pressão e aí puf. Conclusão: a pessoa fez faculdade de administração. Essa faculdade tinha que ter me servido pra alguma coisa. E serviu. Dimensionei tudo, não morri, não passei mal, não tive vontade de ir no banheiro, não fiquei com sede, não tive enxaqueca. Não tinha como aquele dia não ser mais que perfeito assim.

Devo dizer que um dos pontos mais fofos do dia foi a ligação das amigas. Porque eu fui mesmo sozinha e já sabia disso, afinal com meu gosto peculiar e o preço do ingresso, não havia outra hipótese. Mas foi muito feliz descobrir que as pessoas se preocupam comigo. De tempos em tempos alguém ligava. “Oi, chegou, já se enturmou?” foi a frase que eu mais ouvi no telefone. Tudo bem que pra bom entendedor, traduzindo fica ‘oi pessoa chata e antisocial, já fez amizade pra guardarem seu lugar na fila quando você for no banheiro?’, mas pra mim demonstrou carinho e preocupação da mesma forma e eu fiquei feliz por isso. Me enturmei sim. Porque eu sou uma pessoa muito simpática QUANDO EU QUERO. Que fique claro.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Runaway *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 1 de 398


* é, eu copiei descaradamente o esquema de títulos da Isadora. Coisa boa a gente copia. E ainda conta.


Lembre-se: você não precisa ler esses posts. [Se não estiver afim pode pular direto pros comentários e dizer: "Renata, sua linda, você realizou um sonho!" e pronto. Ou nem isso.] ²

Pode voltar aqui daqui duas semanas e pronto. Ou nem isso.


Acordei de ansiedade não eram nem 4 horas da manhã, depois de um sono agitado com sonho onde eu ouvia de fundo a música que - eu já tinha visto num provável set list divulgado - abriria o show (sonhos com trilha sonora é algo que faz parte de mim). No mesmo instante me veio o pensamento: É HOJE. Entre a escuridão e a minha total falta de sono (sempre fui criança que não dormia à noite quando o dia seguinte era especial), ponderei ainda deitada a minha saída. Possibilidade de ser assaltada caso saísse no escuro e caso saísse no claro, possibilidade de pegar ônibus cheio caso saísse no escuro e caso saísse no claro, trânsito que pegaria no caminho caso saísse no escuro e caso saísse no claro, e proporção que a fila aumentaria caso saísse no escuro e caso saísse no claro. Tentei não ser ansiosa. Tentei dormir mais um pouco. Tentei ser a pessoa serena que eu deveria ser de acordo com meus 30 anos de idade. Mas naquela madrugada eu tinha 3 anos. Resolvi levantar. Escovar bem os dentes porque de novo só dali a quase 24 horas, usar meu banheiro pela última vez (sempre fui criança que tem dor de barriga quando o dia seguinte era especial). Café pra acordar sei lá quem porque eu já estava acordada fazia tempo, rezando pra não me dar enxaqueca e esse com certeza seria o último líquido que eu tomaria nas próximas longas horas. Já sabe como é mulher né? Bebe líquido do lado do banheiro já, e apesar de eu não ser esse tipo de pessoa que vai ao banheiro vinte vezes ao dia, resolvi não arriscar. Ir ao banheiro naquele dia era o luxo que eu sabia que teria que abstrair. Com a mochila pronta desde o dia anterior (que ao invés de dormir fui ao mercado, fiz até lista de compras. Ruffles (porque eu sou uma pessoa que se come sanduíche tem enxaqueca), chiclete, coca, água, peras, revistas, palavra cruzada, caneta, capa de chuva, bolsa pequena, óculos escuros, pilhas, lenço de papel. Arrumar tudo, lavar o cabelo, passar minha calça, deixar camiseta no jeito, escolher um sutiã com boa sustentação – porque a pessoa pretendia pular horrores – meia confortável, tênis limpo, brincos, pegar máquina, dinheiro, documentos, carteira do convênio pensando que NUNCA que eu ia morrer nesse dia, mas melhor prevenir. E o ingresso, claro!), me vi pronta antes das 4:30h. Esperar amanhecer é uma dádiva. Não agradável, porém mais segura para as devidas circunstâncias. Enfiei meu ingresso na bunda. Não literalmente, mas como os políticos do Brasil mesmo. Meu ingresso valia muito mais que os meros 720 reais que paguei por ele. ‘Dinheiro’ na calcinha é o que há. Vai que justo esse dia alguém resolve me assaltar! Explicando a tática para o babybrother: por que não no tênis? Oras, porque eu transpiro no pé e depois que passasse o dia todo no lugar do ingresso teríamos somente farelo de papel. Porque não na meia? Porque eu sempre acho que as coisas escapam da meia. Meia de mulher é curta, ué! Dividi o dinheiro em todos os bolsos disponíveis, porque papis me ensinou que é assim que se faz pra prevenir o fato de ficar pelado caso ocorra um assalto. Eu sou mesmo uma pessoa precavida. Pensei em tudo. Lógico, tudo o que eu não conseguia fazer era dormir, então tive tempo pra planejar tudo de sobra.

O dia amanheceu e eu vesti minha blusa de moletom cor de rosa por cima da camiseta comprada com tanto amor, passei uma base nas unhas (e saí assoprando e tomando o cuidado de não marcar – essa sou eu, SEMPRE) e saí com cara de quem ia fazer a coisa mais importante da vida. Cumprimentei o porteiro tentando não deixar tão aparentes meus pensamentos escritos em minha testa. Desci a rua a pé pela primeira vez, peguei o primeiro ônibus que passou, me informei se passava onde eu queria e se ia pelo caminho que eu queria. Foi a primeira vez que eu peguei ônibus desde que me mudei. Surpresa: andar de ônibus é como andar de bicicleta, a gente nunca esquece. Cheio, mesmo às 5h da manhã. Passei por toda a galera e me enfiei nos fundos, onde um moço solidário se ofereceu pra levar a minha mochila. Eu pensava que ele podia sentir por fora que ali tinha só coca cola, rufles e chiclete e imaginar ainda assim que eu estava indo fazer a coisa mais importante da minha vida, ué. Que problema tem mascar chiclete na coisa mais importante da vida?? Enquanto atravessava a única avenida de meu caminho, me lembrei de como a gripe suína ainda não existia quando eu pegava ônibus cheio todos os dias. E então eu me lembrei da Marta Suplicy que resolveu que os ônibus deveriam ter uma porta de cada lado porque inventou que corredor de ônibus no meio da avenida é mais bonito e a partir desse dia eu fiquei pra sempre esperando pra descer numa porta quando na verdade o acesso ao ponto que eu quero descer é sempre na porta que eu não escolhi.

Desci do ônibus quinze minutos depois e andei meu longo e solitário caminho de meia dúzia de quadras até o estádio. Sempre encontrando com pessoas uniformizadas e com ar de ‘lá vamos nós para mais um dia’, o que ia em total desacordo com meu pensamento ‘lá vou eu para o melhor dia da minha vida’. Caminho vazio, ninguém mais estava indo para o mesmo lugar que eu. Ninguém mais tinha mochila nas costas. Ninguém mais tinha uma linda camiseta que era o uniforme do dia escondida sorrateiramente por baixo de um moletom rosa. E enquanto meus pensamentos fervilhavam entre os detalhes da rua deserta e a minha checagem virtual pra ver se tinha levado mesmo tudo o que precisava (até parece que eu ia voltar se tivesse esquecido alguma coisa!), cheguei. Portão 18, o Pista Premium. E então quando eu vi as poucas quase 100 pessoas que estavam lá, me senti em casa. Não aquela sensação da gente se sentir à vontade na casa da vó nem nada. Me senti em casa como o patinho feio que encontra seus cisnes. Ouvindo e lendo críticas há semanas a respeito de meu gosto musical peculiar aos olhares alheios, eu precisava mesmo encontrar meus semelhantes. E estariam todos eles ali até o final do dia: 65 mil pessoas descabeladas e com camisetas do Bon Jovi. E eu pertenço a esse grupo. Ou talvez nem tanto assim.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sobre os melhores 10 segundos da minha vida



Assistiu? Agora volta lá pra ver de novo que eu vou falar pra você: ali, no segundinho, exatamente de 0:07 a 0:17, bem na parte do "That you look lovely as can be. Are you lonely just like me?", enquanto todo mundo levantava as mãos e pulava, eu fazia um coraçãozinho, assim com as mãos. E aí FOI PRA MIM QUE ELE OLHOU. Sorriu, cantou o trecho PRA MIM, enquanto fazia um gesto de pegar o próprio coração e jogar na minha direção.

Faz dois dias que eu procuro um vídeo do momento pra mostrar pra vocês e esse por enquanto é o que está melhor. Mas juro. Apesar de estar morrendo de emoção durante todo o show, eu não delirei. Foi pra mim que ele olhou, foi pra mim que ele cantou. E eu choooreeei horrores e não vou esquecer disso nunca mais.

Conto com vocês pra escreverem na minha lápide: "Aqui jaz Renata. Aquela para a qual o Bon Jovi jogou seu coração. Morreu feliz."


UPLOAD

Comunicação nessa vida é tudo. Lilica foi lá no youtube com as próprias mãos e achou pra mim um vídeo melhor. De pertinho. Chorei. :~~